agosto 30, 2009

Programas Eleitorais

Com a apresentação do programa eleitoral do CDS-PP, Portugal ficou a saber os programas eleitorais para os partidos nas próximas legislativas.

Ou, terá mesmo?

Apesar de todas as polémicas geradas pelos resultados das eleições europeias, talvez não fosse desprovido de algum interesse a realização de uma sondagem, para saber qual é afinal a percentagem da população que se digna ler os textos que são tão laboriosamente preparados pelos nossos partidos políticos.

Mas, na ausência de estudos científicos que demonstrem, com graus de certeza mais ou menos infalíveis, qual o impacto destes documentos para a decisão dos destinos do nosso país, vou ter que me contentar com a minha experiência pessoal.

Não sendo propriamente um ancião da sociedade, levo no entanto já algumas eleições no currículo. Como bom cidadão que sou (ou, tento na medida da minha consciência ser), participei em todos os plebiscitos a que fui convocado - com a excepção do segundo referendo para o Aborto e das ultimas Europeias, visto que em ambas as ocasiões impedido de comparecer por motivos profissionais que me obrigam a ausentar periodicamente do país.

De todas as vezes que me desloquei a uma assembleia de voto, fui plenamente convicto no meu sentido de voto. Conheço a sensação de acompanhar com o meu papelinho a maioria dos papelinhos entregues, e também conheço a sensação de sentir que a maioria optou democraticamente uma escolha diferente da minha.

Sempre me senti minimamente informado quando fui votar. E, no entanto, nunca li os programas eleitorais!

Desta vez, e visto o número de intervenções que têm vindo à praça pública mencionando as falhas deste, as promessas irreais daquele, as supostas semelhanças escritas neste e naqueloutro, decidi ir conhecer os bichos e decidir por mim próprio. E eis o que encontrei:

Programa Eleitoral do PS (120 páginas)

Programa Eleitoral do PSD (40 páginas)

Programa Eleitoral do PCP (52 páginas)

Programa Eleitoral do BE (110 páginas)

Programa Eleitoral do CDS-PP (261 páginas)

Programa Eleitoral do MEP (68 páginas)


Ora bem... Isto daria 120+40+52+110+261+61= 651 páginas para ler. Bem sei que são menos, que há fotos e capas e contracapas e itálicos e bolds e fotos e as letras são grandes blá blá blá blá... Mas são 651 páginas aquelas que me esperam, cidadão consciente e literado, se quiser saber a fundo onde por a cruzinha daqui a 27 dias (mais um para reflexão). Isto, claro, se quiser apenas estar dentro dos conteúdos dos 5 partidos do costume, mais o mais votado dos partidos pequenos. Nem quero imaginar, se tiver que ler os programas eleitorais dos restantes partidos que irão concorrer às eleições...

Claro que isto dá "apenas" 24,1111111... páginas para ler por dia, algures no meio dos afazeres da família...

Mas, como sou um cidadão responsável e cioso do meu voto, não vou dispensar um período mais alargado de análise e comparação dos programas nos pontos mais sensíveis. Digamos, uma semanita só para comparações e análises do que nos prometem para os próximos 4 anos. Portanto, temos 20 dias para ler os programas, o que dá uma média de 32,5 páginas para ler por dia.

Nada mau!

Até pode ser remotamente realizável, para o comum dos mortais, o exercício de cidadania que nos é proposto, mas parece-me evidente que no fim de ler tanta coisa, o que restará será o irritante zumbido de uma valente dor de cabeça!

A este propósito, parece-me muito razoável a escolha que alguns partidos tomaram de elaborar programas curtos, notavelmente o programa do PSD, que foi tão criticado pelo seu carácter... Minimalista.

O que acaba por acontecer, é que quem lê os programas eleitorais são as estruturas e militantes dos próprios partidos, por forma a que possam afinar o discurso com os grandes chavões superiormente aprovados. No entanto, como estas pessoas (e, enfim, os simpatizantes não militantes) já votariam à partida no partido cujo programa se dignam a ler, é duvidável que algum esclarecimento público de monta venha a resultar da sua publicação.

É como perguntar aos adeptos de uma claque de futebol se acham que a sua equipe vai ganhar...

O comum do cidadão (neste caso, eu!), esse... Está irremediavelmente entregue à bicharada (leia-se, propaganda)!

Salve este País a memória, curta mas não inexistente, do que andaram a fazer aqueles senhores todos nos últimos 4 (ou 8, ou 80) anos... E cada qual decida por si!

Ps: O CDS-PP lançou um repto aos partidos para que abdicassem dos outdoors de publicidade nas campanhas eleitorais, aparentemente um dos items em que os partidos mais investem. Apoiado, por todas as razões apontadas e não só a questão do dinheiro! Para poluição, já basta (quase) tudo o resto...

Ps2: É uma verdadeira obscenidade, num país que atravessa as dificuldades que atravessa, o volume de dinheiro que se planeia investir nas campanhas eleitorais. Um recado para todos, mas principalmente à esquerda, que unanimemente planeia aumentar as verbas destinadas ao sufrágio... Ou, será uma forma de reactivar a economia?

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