junho 29, 2009

O Manifesto do Ignorante

Em resposta aos manifestos emanados pelo grupo dos 28, e pelo grupo dos 60, eu, ignorante nas matérias e desconhecedor das teorias politico-económicas, tenho a dizer o seguinte.

Antes de mais, gostaria de agradecer a todos os 88 que participaram em ambos os manifestos. A sua opinião é por certo valiosa, e o seu contributo indispensável no Portugal que queremos construir. Antes pudéssemos ter participações semelhantes em mais áreas da vida publica, e certamente o país estaria em melhor estado!

Já tenho tido ocasião de escrever neste espaço sobre a luta intestina que vai nos meios académicos e políticos sobre esta crise, e como ela tem servido de arma de arremesso nesta discussão.

Vejo, pois, com naturalidade que estes manifestos estejam a ser encarados como uma cristalização dessa luta para o espaço público: O manifesto original, dos 28, teoricamente como uma exposição das perspectivas conservadoras de centro-direita, e a resposta, dos 60, exigindo uma actuação mais "de esquerda". Acredito inclusivamente, que o sejam de facto.

No entanto, se eles transmitem perspectivas diferentes e atitudes contraditórias, pouco disso se extrai dos textos - digo eu!, que sou ignorante nas matérias...

Ambos os manifestos concordam que o estado da economia nacional é mau e vem de trás. Ambos falam na eficiência do investimento público. Ambos, mencionam o desemprego e as tensões sociais.

Para além disso, as divergências entre os textos é uma das seguintes: semântica, retórica, ou pura e simplesmente a colocação de alhos onde a outra fala bugalhos.

Por esse motivo, não é para mim líquido que o M60 tenha sido escrito com o simples objectivo de responder ou contrariar o M28. Aliás, se era esse o objectivo, parece-me que falha redondamente. Prefiro encarar os textos como contribuições diferentes para o debate sobre o caminho a seguir.

O M28 não nega a necessidade do investimento público; antes salienta a necessidade desse investimento dever ser bem orientado para projectos que criem valor acrescentado na economia Portuguesa, duvidando nomeadamente dos 3 maiores projectos encetados pelo Governo actual: Aeroporto de Lisboa, TGV, e Auto-estradas.

Basta ver a história contada no Público de ontem pelo Engº. Alberto Aroso sobre a forma como se fizeram os estudos para o aproveitamento hidro-eléctrico do vale do Tua, para perceber a pertinência do apelo expresso no M28: Em Portugal, os "estudos" que se fazem para determinada empreitada são condicionados pela vontade inicial de a realizar. Outros exemplos famosos: A o traçado do TGV, a questão da OTA, o FREEPORT. Apenas para mencionar alguns.

Por outro lado, o M60 exige mais investimento público, e que o mesmo seja orientado à geração de emprego e diminuição dos problemas sociais. Na prática, nega portanto os projectos avançados pelo Governo, que exigem um investimento (supra-)nacional mas cuja execução é mais do que local, e cujo benefício é extremamente duvidoso.

Haverá quem argumente (a tese do governo), que a construção destas grandes empreitadas gera emprego. A esses, relembro que numa lógica europeia existem grandes consórcios internacionais a operar em território nacional no sector das grandes obras públicas, e que, como em todas as restantes áreas - da agricultura às pescas, passando pelo têxtil, pela metalurgia, pelas actividades extractivas, etc etc etc etc (um grande etc) - fazem mais barato e melhor que nós, pelo que mais provável é que a maior parte do TGV seja feito por espanhóis, as auto-estradas por alemães, os aeroportos por franceses, etc. Alguns empregos serão criados a nível nacional - não tenho dúvidas disso - mas acreditar que serão tantos quando o governo anuncia, ou a solução para os nossos males, é completamente irrealista!

Pela minha parte, subscrevo ambos na medida em que condenam esta mania das obras faraónicas completamente desnecessárias e ridículas!

Quanto ao resto, fica-me a saber a pouco... Gostaria mesmo, era de saber que tipo de investimentos é que seriam de executar para combater a crise...

E, se possível, que os opinion-makers nacionais não gastassem energias a atirar areia para os nossos olhos com tricas estéreis e sem substrato, e ajudassem de facto a esclarecer onde estamos, e para onde devemos ir.

junho 27, 2009

Espaço Vazio

Os fins de semana a bordo são uma seca.

Tirando os momentos em que se está a trabalhar, que por vezes são prolongados mas nem sempre, uma pessoa está constantemente a tentar imaginar o que estará o resto do mundo a fazer...

Claro que, quando a isso se junta o belo do verão, o desejo irreprimível de estar na esplanadinha ou na praia, na companhia de amigos ou familiares intensifica-se até o expoente máximo da loucura!!!

Quero dizer... Normalmente, não me incomodam nada os momentos de maior solidão, pois até sou daquelas pessoas que se entretêm perfeitamente uma tarde inteira de volta de um simples livro e/ou jornal do dia, com uma musiquinha à maneira (e, pronto, uma bejeca) a acompanhar.

Mas, agora não me apetece! Não me apetece mesmo nada!

Portanto, pare-se a guerra imediatamente, que aqui o menino quer mimo! Quero já todos (vocês sabem quem são...) a fazerem login freneticamente nos vossos MSN's, quero janelas a saltar com aquele som característico com todos os últimos cochichos e novidades, quero teclar até todos os meus 10 dedos das mãos me doerem - se for preciso os dos pés também ajudam no teclado - quero estabelecer novas conexões, restabelecer as velhas, recordar bons momentos, e - porque não? - os maus também, quero discutir o presente planear o futuro, debater tão apaixonadamente os benefícios do TGV como a gravidade de estarmos limitados no espaço-tempo, ou a relatividade dos acontecimentos absolutamente determinados... Qualquer coisa!!!

Mas, por muita força que faça... Por muito que eu o deseje... Nada acontece!

Ora bolas...

Divirtam-se, todos, pois... Eu, ficarei aqui... Eternamente esperando...





Ou não!

:-)




"What Shall We Do Now"

What shall we use to fill the empty spaces
Where waves of hunger roar?
Shall we set out across the sea of faces
In search of more and more applause?
Shall we buy a new guitar?
Shall we drive a more powerful car?
Shall we work straight through the night?
Shall we get into fights?
Leave the lights on?
Drop bombs?
Do tours of the east?
contract diseases?
Bury bones?
Break up homes?
Send flowers by phone?
Take to drink?
Go to shrinks?
Give up meat?
Rarely sleep?
Keep people as pets?
Train dogs?
Race rats?
Fill the attic with cash?
Bury treasure?
Store up leisure?
But never relax at all
With our backs to the wall.



Doctor Doctor what is wrong with me
This supermarket life is getting long
What is the heart life of a colour TV
What is the shelf life of a teenage queen
Ooh western woman
Ooh western girl
News hound sniffs the air
When Jessica Hahn goes down
He latches on to that symbol
Of detachment
Attracted by the peeling away of feeling
The celebrity of the abused shell the belle
Ooh western woman
Ooh western girl
And the children of Melrose
Strut their stuff
Is absolute zero cold enough
And out in the valley warm and clean
The little ones sit by their TV screens
No thoughts to think
No tears to cry
All sucked dry
Down to the very last breath
Bartender what is wrong with me
Why am I so out of breath
The captain said excuse me ma'am
This species has amused itself to death
Amused itself to death
Amused itself to death
We watched the tragedy unfold
We did as we were told
We bought and sold
It was the greatest show on earth
But then it was over
We ohhed and aahed
We drove our racing cars
We ate our last few jars of caviar
And somewhere out there in the stars
A keen-eyed look-out
Spied a flickering light
Our last hurrah
And when they found our shadows
Grouped around the TV sets
They ran down every lead
They repeated every test
They checked out all the data on their lists
And then the alien anthropologists
Admitted they were still perplexed
But on eliminating every other reason
For our sad demise
They logged the only explanation left
This species has amused itself to death
No tears to cry no feelings left
This species has amused itself to death

(Switch Channels)
[Alf Razzell:]
"Years later, I saw Bill Hubbard's name on the memorial to the missing
at Aras[?]. And I...when I saw his name I was absolutely transfixed; it
was as though he was now a human being instead of some sort of
nightmarish memory of how I had to leave him, all those years ago.
And I felt relieved, and ever since then I've felt happier about it,
because always before, whenever I thought of him, I said to myself,
'Was there something else that I could have done?'
[Background: "I'd rather die, I'd rather die..."]
And that always sort of worried me. And having seen him, and his
name in the register - as you know in the memorials there's a little safe,
there's a register in there with every name - and seeing his name and
his name on the memorial; it sort of lightened my...heart, if you like."
(Woman) "When was it that you saw his name on the memorial?"
"Ah, when I was eighty-seven, that would be a year, ninete...eighty-
four, nineteen eighty-four."

junho 22, 2009

Na minha opinião...

... Uma das melhores animações dos últimos tempos! Espero que gostem tanto como eu!...

junho 21, 2009

Neda Soltani, In Memoriam

Neda Soltani, era uma jovem de 20 anos, morta pelas milícias Basiji, no dia 20 de Junho de 2009.

O seu crime: protestar contra uma situação que considerava injusta.

Quaisquer que fossem as razões do regime iraniano, elas perdem toda a validade perante a monstruosidade deste acto.

A opressão do seu próprio povo só pode marcar o início do fim!

Para as famílias dos mártires (para usar um termo caro do mundo islâmico) da liberdade, os meus pensamentos e orações.

Ps: o video abaixo retrata os ultimos momentos de vida de Neda Soltani. As imagens são extremamente gráficas, e não se recomendam a pessoas sensíveis.

Dia do Pai

Não é tradição em Portugal, mas hoje é o dia do Pai na África do Sul, Argentina, Canadá, Chile, Eslováquia, Estados Unidos, Filipinas, França, Hong Kong, Holanda, Índia, Irlanda, Japão, Macau, Malásia, Malta, México, Peru, Reino Unido, Turquia e Venezuela.

Parabéns, portanto, a todos os papás!

junho 20, 2009

Frase do dia

"O imbecil que viaja ao nosso lado no comboio e dirige operações financeiras em voz alta, está na realidade a pavonear-se com uma coroa de plumas e um anel às cores enfiado no pénis."
Umberto Eco

Bursaphelenchus xylophilus

Nota prévia: O texto que se segue é alegórico, e NÃO pretende retratar a praga do Nemátodo, que é bem real e nos afecta gravemente. Se o caro leitor procura informação factual sobre o verme, e a forma como impacta as nossas florestas, aconselho-o a seguir um dos links que se encontram no texto.


Este um artigo é dedicado um problema gravíssimo, uma praga que se espalha silenciosamente nas nossas florestas sem que nada nem ninguém pareça conseguir parar o seu rasto de morte e destruição: falo, obviamente, do Nemátodo da Madeira do Pinheiro.



É um parasita pernicioso, o Nemátodo. Aproveitando a mobilidade fornecida pelos insectos, propaga-se pela floresta, e aproveita qualquer brecha que possa encontrar no pinheiro saudável para entrar. Quando isto acontece, encontra-se já perdido não só o pinheiro insuspeito, mas toda a floresta. Isto porque, apesar de a infecção só se espalhar em determinada altura do ano, os seus efeitos manifestam-se ao longo de todo o ano, intensificando-se e consolidando as suas posições. Ao fim de mais um ciclo anual, voltam os insectos para redistribuir o verme pelas árvores restantes, e, com isso, continuar a progressão da pandemia.

Adiante-se, por fim, que as várias famílias de nemátodo - rubicunda; rubinegra; rubimagentosa, rubiamarela; ciano-magentosa - competem entre elas, mas são na prática difíceis de distinguir, e levam na prática à destruição do pinhal saudável de forma bastante semelhante. Por conseguinte, a luta contra a doença não se tem concentrado em nenhuma família em especial, mas na espécie enquanto toda.

Como, pergunta o caro leitor, podemos então reconhecer a presença de tão temível verme no nosso pinhal?

A resposta não é fácil. Ainda mais para alguém como eu, que das artes biológicas percebo pouco!

O que recomendo, acima de tudo, é que se informe na sua associação florestal. (Tenha apenas em atenção que a sua associação não esteja dominada por interesses dos madeireiros à cata de madeira boa a preço baixo. Como sempre, verifique sempre que a origem da informação é fidedigna, e alheia a interesses. Compare sempre a informação fornecida pelas ONG's e organizações internacionais com a dada pelas associações dependentes do subsidio estatal.)

Porém, estimadíssimo e paciente companheiro, tentarei não eximir a minha responsabilidade, e esboço em seguida pequenos sintomas que possam denunciar o verme no seu pinhal. Olhe então para o seu pinhal com atenção, e veja se o que observa coincide com o que descrevo em seguida:

  • Apesar do vento soprar de um só lado, os seus pinheiros oscilam para lados conflituosos. Por exemplo, se o vento sopra de norte, as copas das árvores balançarão para este e oeste, e não para sul como seria normal. Atente que, ainda mais estranho, os seus pinheiros não oscilam em conjunto em determinada direcção.

Esta é uma prova inequívoca da presença da doença no seu pinhal. Demonstra a confusão que o seu pinheiro tem em agir de acordo com as exigências da realidade. Normalmente, não só a resposta às necessidades do momento é inadequada, como ditada por interesses secundários, e nos primeiros estádios de infecção a forma como as árvores oscilam permite a identificação da família do verme infectante. Em estados mais avançados da doença, aumenta o autismo do pinheiro, e se antes os pinheiros ainda oscilavam em bloco, ultimamente acabarão por agitar-se de forma completamente individual e sem respeito pelas necessidades do pinhal.

No entanto, o efeito pode não ser evidente, pois é um fenómeno que desaparece bruscamente na altura do ano em que o Nemátodo se dedica a espalhar-se pelas árvores ainda não infectadas. Isto porque se torna imperativo aumentar ao máximo a receptividade dos pinheiros saudáveis, por forma a maximizar a área de influência da sua família. Nesta altura do ano, a competitividade entre as diversas famílias no seu pinhal é feroz, mas abafada. Os insectos com maior capacidade de propagação são arduamente disputados por entre as famílias, e, uma vez recrutados, partem à procura de brechas no pinheiro saudável para semear a destruição no pinhal.

  • A frescura da sombra da sua árvore desapareceu. Os solos secam, e tornam-se áridos.

A árvore infectada não produz copas frondosas, e absorve todos os nutrientes e água do terreno, o que acaba por afectar a capacidade produtiva da sua floresta. Assim, mesmo as espécies que não são afectadas pelo verme directamente, acabam por sofrer com o seu impacto.

Os terrenos depauperados, por outro lado, tornam difícil (se não mesmo impossível) a implementação de espécies resistentes ao nemátodo.

  • Em vez de pinha o seu pinhal produz "bolotas".

Os recursos usurpados pelas árvores infectadas, são canalizados para produtos estranhos à produção normal da sua floresta. Como os meios produtivos são inadequados, o produto só poderá de má qualidade: nem o porco mais faminto aceitará as "bolotas" que saem do seu pinhal afectado pelo Nemátodo. No entanto, essa produção será tão mais intensa quanto os recursos disponíveis escassos, o que precipita o fim do seu pinhal.

  • As aves migrantes, outrora abundantes, desapareceram por completo.

Nos últimos estádios da progressão da doença, o seu terreno privado de riquezas naturais e forças produtivas naturais e bem enquadradas, deixa de ser aprazível para toda a fauna, que é forçada a abandoná-lo e procurar espaços mais férteis.


Se, caro leitor, vê alguns (ou todos) os sintomas anteriormente descritos, não encontrará consolo em saber que, uma vez infectadas as árvores, elas dificilmente são recuperáveis. A única forma de combater a praga, é a de expurgar do seu pinhal os elementos contaminados numa fase ainda inicial da infecção. Se tal não acontece, o colapso do seu terreno é quase inevitável e a recuperação extremamente difícil, cara, e prolongada.

Assim, a melhor forma é mesmo a prevenção: isolar, na medida do possível, as infecções, e controlar eficazmente os insectos que disseminam o vírus. A melhor forma de o fazer, é justamente na altura em que os vírus se encontram mais vulneráveis: quando tentam expandir-se. Nessa altura, a acção do produtor florestal é essencial: se aplicar "correctivo" em suficiência, e favorecer espécies resistentes ao vírus florestal, poderá controlar - em casos especiais, reduzir inclusivamente - a praga.


Escrevo este artigo, porque 2009 é um ano especial no combate a este perigo que assola o nosso território. Em 2009, o vírus está especialmente em crise, com um período extremamente prolongado de vulnerabilidade. Assim, está nas nossas mãos, aplicar os correctivos em quantidade e na hora certa.

O futuro da nossa floresta depende de nós!

Obrigado.

(Ps: O problema do Nemátodo é um problema real, e que não tem relação com o que pretendo retratar aqui - que não deixa de ser um problema real. Apesar da pouca informação disponibilizada (ver também aqui), as florestas de Portugal tem sido extremamente afectadas por este vírus, que põe em causa o equilíbrio ecológico nacional, e toda a produção florestal nacional.)

junho 18, 2009

Irão: Luta pela Democracia, ou golpe de Estado?

Ao contrário da percepção que aparentemente o mundo internacional tinha - talvez, instigada por interesses ocidentais - a República Islâmica do Irão é, apesar da complexidade do seu sistema, uma democracia.

Uma democracia com laivos ditatoriais, é certo, mas com uma característica quase ímpar a nível das Democracias Islâmicas: os resultados eleitorais, sempre foram consideradas fidedignas - e, como tal, um obstáculo à retórica ocidental de classificação como "eixo do mal".

Afinal, a ditadura, e opressão do povo iraquiano foi a única razão ocidental que ficou em pé das ruínas de Bagdad. Tal não se aplica ao Irão, onde a política do país é avaliada pelo seu povo e sufragada em eleições reconhecidas internacional como legítimas.

O peso dos acontecimentos que nos chegam é, portanto, grande: a falta de credibilidade dos resultados eleitorais apurados mina seriamente a capacidade negocial do Irão na cena internacional, e justifica eventuais ataques ocidentais ao país, encapotados de libertação democrática. Mesmo que tal não pareça estar na agenda do presidente americano, o facto é que o legado do primeiro mandato de Ahmmadinejad é o de um país extremamente fragilizado no panorama internacional, em consequência da sua insistência em não clarificar o programa nuclear.

Da parte ocidental, o desejo de ver o senhor Ahmadinejad fora da cadeira do poder é evidente: a mudança de liderança política permite ter esperança num desanuviar de tensões que permita ao Irão renegociar a questão nuclear, ou mesmo uma suavização da agressividade perante a questão israelita - incluído o financiamento iraniano a organizações consideradas terroristas como o Hamas e Hezbollah. Tudo posições que o senhor Moussavi, o principal candidato derrotado, admitia tomar em caso de vitória.

O facto, é que os resultados eleitorais não foram favoráveis aos interesses ocidentais.

No entanto, a reacção da oposição aos resultados - extemporânea, inédita mesmo, no mundo islâmico, principalmente se considerarmos que estamos a falar de um país extremamente controlado e reprimido como o Irão - deixou todos os observadores internacionais de boca aberta, e o regime da República hesitante.

Para espanto de todos, a acusação de fraude eleitoral não parece ficar abafada debaixo de um qualquer édito governamental. Haja investigação às queixas, e uma recontagem de votos.

Nas ruas de Teerão, as demonstrações de descontamento sucedem-se apesar da neblina de gás lacrimogéneo e das balas das milícias que tentam desmobilizar a multidão. O regime treme e vacila.

É extremamente difícil saber qual a realidade dos acontecimentos. Será que, como com certeza todo o mundo ocidental deseja, os resultados são fraudulentos; as manifestações de rua representam a luta justa de um povo que exige que a sua palavra seja respeitada? Ou, por outro lado, tudo não passa de uma manifestação de descontentamento e mau perder de uma casta elevada da sociedade (culturalmente superior mas minoritária nas urnas), e os resultados obtidos, mesmo que com o desconto de fraude aqui ou ali, traduzem o sentido de voto democrático do país?

As potências ocidentais parecem não se comprometer com nenhuma posição relativamente ao assunto, mas lá vão dizendo que as alegações têm que ser apuradas, esperançadas é certo que a mudança de rumo político se verifique.

A realidade é que os dados recolhidos por organizações independentes sugerem que os resultados estarão certos, e a vitória pertença de facto a Ahmadinejad (ver também aqui e aqui).

Mas, há uma complexidade adicional: as manobras de bastidores dentro do próprio regime parecem indicar que a margem de manobra do presidente iraniano cessante se encontra muito próxima do fim, e que inclusivamente uma mudança de governação é agora vista com bons olhos. Some-se isto, à pressão internacional e à das ruas, e tem-se uma situação verdadeiramente impossível de prever.

Mas, dela, muita coisa estará em jogo.

Com ou sem legitimidade, o vencedor desta gravíssima crise será o interlocutor com quem a comunidade internacional se terá que entender. E, a forma como os altos poderes do regime lidam com a situação parece indicar que será a conclusão do dossier nuclear que irá determinar quem vai e quem fica no mais algo cargo executivo do país.

Mesmo que o desfecho final seja contrário à vontade do povo.

junho 13, 2009

3º Calhau a Contar do Sol

Aqui há uns tempos, passava na televisão uma comédia chamada "3º Calhau a Contar do Sol". Nela, um comando de espiões extra-terrestres infiltrava-se no planeta Terra e tentava obter informações acerca dos primitivos humanos.

Era uma série em que, ao bom estilo de Gil Vicente se fazia uma crítica (por vezes mordaz) da forma como somos, como funcionamos, como nos relacionamos, nas nossas ambições, nos nossos sentimentos, nas nossas contradições.

Tudo o que se passava nessa hora, tirando a hipérbole necessária à própria comédia, era profundamente realista e humano.

O que faz a técnica da série funcionar, é algo muito semelhante aos artifícios de retórica que Umberto Eco mencionou magistralmente na sua participação no ciclo "Sob o Signo da Palavra", organizado pelo Centro de Estudos "A Permanência do Clássico", em 20 de Maio de 2004, na Universidade de Bolonha. ("A passo de Caranguejo", 6a ed., Difel, pp. 47 e seguintes)

A intervenção do grande pensador italiano começa com algo do género: "Não sei se o que vou dizer adianta alguma coisa, porque vocês não têm capacidade para o compreender", para explicar como tal forma de argumentação é obviamente contraproducente para convencer a audiência da justeza das nossas afirmações subsequentes.

E, na sua forma didáctica de expôr as questões, continua dizendo algo como isto: o problema surge, no entanto, quando nos afirmam algo subtilmente diferente: "Não sei se o que vou dizer adianta alguma coisa, mas irei dizê-lo na mesma em respeito aos 2 ou 3 que têm capacidade intelectual para perceber o que digo". Neste caso, cada pessoa se sentirá uma das "2 ou 3 iluminadas", e, olhando com desdém para quem os rodeia, fará o seu melhor para aceitar a teoria que lhe é proposta - afinal, prova inequívoca da sua superioridade! - mesmo que seja contra os seus próprios valores e ideais.

É uma rasteira subtil, mas eficiente. Como se costuma dizer, nos pormenores é que se esconde o diabo!

Dizia eu, a comédia na série televisiva, encontra-se num artifício muito semelhante: o tele-espectador, ciente da sua superioridade perante os eventos que lhe são mostrados, permite-se achar graça aos mesmos. O engano está na própria superioridade do espectador, que é completamente ilusória. Ridendo Castigat Mores. A rir castigas os teus costumes.

Não pretendo advogar para mim nem superioridade, nem convencer o prezado e indulgente leitor da justeza (ou não!) das minhas observações. Mas, na minha mentalidade (leiga, e certamente ignorante dos grandes desígnios), tenho hoje, em grande medida, a ideia de estarmos a viver dentro de um gigantesco e super elaborado episódio do "3º Calhau a Contar do Sol".

Senão vejamos.

A ideia geral alinha-se para uma imagem da sociedade em que os (poucos) ricos (poderosos banqueiros, empresários, políticos) se organizam para controlar (explorar, subjugar) os (muitos) pobres, com o intuito de aumentar a sua esfera de poder e/ou a sua riqueza.

Com essa ideia em mente, organizam-se teorias de organização da sociedade, genericamente denominadas de "direita" ou de "esquerda", que advogam uma maior ou menor regulação/intervenção da sociedade sobre o indivíduo - principalmente, sobre os ricos ou especialmente poderosos.

A "direita", genericamente, defende as liberdades individuais, e uma auto-regulação do indivíduo, enquanto a "esquerda" defende a supervisão da sociedade (estatal) sobre os indivíduos.

Assim, a "direita" é normalmente associada aos estratos da sociedade dominantes, enquanto a "esquerda" se identifica logicamente mais com o proletariado, e as classes trabalhadoras.

A ironia - não por acaso elemento muito associado à comédia, e especialmente utilizado nas peças de Gil Vicente e na sitcom americana - surge em períodos de crise como o que atravessamos actualmente, em que os ricos e poderosos (a "direita") vem pedir apoios estatais para os (seus) negócios privados em colapso, enquanto o povo (a "esquerda") se manifesta ruidosamente contra os mesmos.

Por certo não ignorará a esquerda a razão dos que, à direita, dizem que se as empresas falirem, os trabalhadores irão para o desemprego, e o povo passará fome.

Na mesma medida, não ignora a direita, que o excesso de liberdades - que advogam - torna a sociedade instável, e que a participação/supervisão do estado sobre as actividades privadas é necessária, potenciadora de estabilidade, e geradora de períodos mais alargados de prosperidade social e económica - mesmo que possa limitar (e limite de facto) em determinados períodos a dimensão dessa mesma prosperidade.

Mas, é claro que ninguém quer perder a face, mesmo que, de ambos os lados da barricada ideológica, o gato se esconda com o rabo de fora.

(A juntar à fina ironia deste episódio, nas últimas europeias os povos deram uma vitória inequívoca à escala europeia dos partidos de direita sobre os da esquerda. Mas não pretendo teorizar sobre este assunto...)

O caso BPP é sintomático do que acabo de dizer. No auge da crise financeira, o então presidente da instituição veio pedir apoio estatal para a salvar da falência. O governo - de esquerda, e apesar da oposição ruidosa de toda a oposição ainda mais à esquerda - prontamente se disponibilizou a ajudar, intervencionando e congelando as contas dos depositantes do banco.

Pode-se dizer, que o governo teve uma atitude coerente com os seus ideais. A oposição à esquerda, por outro lado, não poderia ter uma reacção mais à direita, pois a ausência de intervenção significaria a falência da instituição, e ruína para trabalhadores e clientes.

Esta semana, no rescaldo de uma potente derrota eleitoral, o mesmo governo de esquerda - pressionado sem dúvida pela necessidade de alinhar rapidamente a sua acção com a dos partidos ideológicamente mais semelhantes - veio ceder ao protesto das oposições ditas de esquerda, e dar o dito por não dito, isto é, deixando cair o banco.

Parece-me muito justa a observação de Paulo Ferreira, na edição do Público de hoje: "se a decisão do Governo de deixar o BPP entregue às leis do mercado está correcta, então ela chegou atrasada sete meses; mas se considerarmos que ela chegou no tempo certo, então ela está errada." Afinal, o raciocínio que está perante as tomadas de decisão neste caso, não se percebe.

Aliás, percebe-se, e bem, é o jogo da sobrevivência política!

O problema, é que estas acções ziguezagueantes dizem muito acerca da natureza humana, e dão razão aos cépticos que criticam o discurso bem intencionado de António Barreto, que nas recentes comemorações do dia de Portugal dizia que o exemplo fazia mais pelo progresso e bem estar da comunidade que discursos bonitos e bem elaborados.



Em Itália, Berlusconi soma e segue, apesar das suas extravagâncias com raparigas de tenra idade nos seus palácios e sabe-se lá onde mais, e acção legislativa feita à medida, e atropelos aos direitos humanos, e alegadas ligações às mafias, e..., e... E... Não me encontro suficientemente habilitado para arriscar a explicação do fenómeno. (Penso no entanto que as consequências da manutenção daquele senhor no cargo serão graves e duráveis, e que a falta do povo italiano em reconhecer isso mesmo deve ser motivo de preocupação e reflexão profunda.)

Escrevamos sem rodeios: O senhor é motivo de chacota por toda a Europa. Mas, será assim tão diferente em nossa casa? Como no "3º Calhau a Contar do Sol", tirando a espectacularidade e a extravagância das acções, o que é que separa o senhor Berlusconi do senhor Sócrates, do senhor Jardim, do senhor Presidente da Câmara, do Patrão, do empregado, do vizinho... de nós próprios? Será assim tanto?

Em Inglaterra, o governo teve uma pesada derrota eleitoral, diz-se, devido a um escândalo de uso de dinheiros públicos para financiar despesas privadas dos deputados. A verdade, parece, é que todos o faziam, e que a grande fatia do bolo até terá sido gasta pelos deputados do principal partido da oposição (que, por acaso, até terá ganho as eleições).

Mais uma vez, assim tão diferente de nós próprios?

junho 12, 2009

Israel

Vale a pena conhecer a história de Ezra Nawi, um israelita militante pelos direitos humanos. A história dele é narrada na edição do Público de hoje (e pode ser conhecida também aqui). Ezra foi preso no dia 14 de Fevereiro de 2007, enquanto tentava inutilmente impedir a demolição de uma casa (a denominação empresta alguma dignidade a uma construção que não é mais que uma barraca) de palestinianos na região de Hebron, e foi condenado por alegadamente ter agredido um soldado israelita no decurso da acção de protesto, arriscando pena de prisão. Os factos, filmados e disponibilizados pelo youtube, não mostram a agressão ao soldado, antes pelo contrário, evidenciam uma acção de protesto pacífica.



Nesta parte do mundo, há muito que a comunidade internacional escolhe fechar os olhos a situações como estas. Num país que foi gerado na consequência do horror terrorista do 3º Reich, o domínio cada vez mais acentuado da extrema direita apenas pode ser motivo de preocupação.

É evidente que Israel perde a aura de pequeno estado oprimido perante as potências árabes que o rodeiam. Pelo contrário, Israel é hoje uma criança mimada - um pequeno ditador - que usa a protecção dos Estados Unidos para oprimir impunemente populações desprotegidas.

As poucas organizações que lutam contra esta opressão, começaram a fornecer aos palestinianos câmaras de filmar, na tentativa que as imagens mobilizem a opinião pública internacional. O resultado, no entanto, é ainda incipiente.

O terrorismo de estado israelita tem obviamente cobertura pelo imenso e grande lobby judaico - americano, mas também europeu. No entanto, pode-se dizer também que todos nós enquanto opinião pública temos a culpa do estado a que as coisas chegaram. Após décadas de vermos nas televisões as agressões que a imensa mole palestiniana sofre, quando é que nos indignámos realmente a ponto de fazer - ou exigir que se fizesse - algo?

O facto é que, a acção dos nossos responsáveis está - e esteve - em linha com as nossas próprias. Se todo o mundo condenou a recente guerra na faixa de Gaza, nenhum político se terá sentido suficientemente pressionado pela sua população para erguer uma barreira efectiva que protegesse os palestinianos das bombas de fósforo israelitas.

(Note-se aqui, o intenso contraste com as guerras dos Balcãs, em que a NATO correu a proteger populações Bósnias e Kosovares dos pérfidos Sérvios - estes últimos ironicamente aliados da poderosa Rússia.)

O que separa realmente a questão Palestiniana da questão Kosovar? No limite, não poderia ser empregue uma solução semelhante, de reconhecimento internacional de um Estado independente, mesmo sem o acordo de uma das partes?

Tenho a noção da dificuldade particular da fronteira entre Israel e Palestina ser uma entidade mais maleável que rígida, e de haver as questões das zonas ocupadas e dos refugiados. Nesse sentido, parece-me correcta a abordagem de Obama, que exige pura e simplesmente a cessação dos colonatos.

Tal indica que o Big Brother Americano (no sentido de irmão mais velho e protector) poderá estar finalmente a cansar-se das tropelias do rebelde Little Brother, e prepara-se para exigir das partes as responsabilidades que lhes são devidas.

Oxalá!...

junho 10, 2009

Amén...

... Ao discurso de António Barreto nas comemorações do Dia de Portugal, Camões, e das Comunidades Portuguesas. (Disponibilizado pelo Público aqui e transcrito.) Vale a pena ler.

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
Santarém, 10 de Junho de 2009
António Barreto
Senhor Presidente da República,
Senhor Presidente da Assembleia da República, Senhor Primeiro-ministro,
Senhores Embaixadores,
Senhor Presidente da Câmara de Santarém,
Senhoras e Senhores,

Dia de Portugal... É dia de congratulação. Pode ser dia de lustro e lugares comuns. Mas também pode ser dia de simplicidade plebeia e de lucidez.

Várias vezes este dia mudou de nome. Já foi de Camões, por onde começou. Já foi de Portugal, da Raça ou das Comunidades. Agora, é de Portugal, de Camões e das Comunidades. Com ou sem tolerância, com ou sem intenção política específica, é sempre o mesmo que se festeja: os Portugueses. Onde quer que vivam.

Há mais de cem anos que se celebra Camões e Portugal. Com tonalidades diferentes, com ideias diversas de acordo com o espírito do tempo. O que se comemora é sempre o país e o seu povo. Por isso o Dia de Portugal é também sempre objecto de críticas. Iguais, no essencial, às expressas por Eça de Queirós, aquando do primeiro dia de Camões. Ele afirmava que os portugueses, mais do que colchas às varandas, precisavam de cultura.

Estranho dia este! Já foi uma "manobra republicana", como lhe chamou Jorge de Sena. Já foi "exaltação da raça", como o designaram no passado. Já foi de Camões, utilizado para louvar imperialismos que não eram os dele. Já foi das Comunidades, para seduzir os nossos emigrantes, cujas remessas nos faziam falta. E apenas de Portugal.

Os Estados gostam de comemorar e de se comemorar. Nem sempre sabem associar os povos a tal gesto. Por vezes, quando o fazem, é de modo desajeitado. "As festas decretadas, impostas por lei, nunca se tornam populares", disse também Eça de Queirós. Tinha razão. Mas devo dizer que temos a felicidade única de aliar a festa nacional a Camões. Um poeta, em vez de uma data bélica. Um poeta que nos deu a voz. Que é a nossa voz. Ou, como disse Eduardo Lourenço, um povo que se julga Camões. Que é Camões. Verdade é que os povos também prezam a comemoração, se nela não virem armadilha ou manipulação.

Comemora-se para criar ou reforçar a unidade. Para afirmar a continuidade. Para reinterpretar o passado. Para utilizar a História a favor do presente. Para invocar um herói que nos dê coesão. Para renovar a legitimidade histórica. São, podem ser, objectivos decentes. Se soubermos resistir à tentação de nos apropriarmos do passado e dos heróis, a fim de desculpar as deficiências contemporâneas.

Não é possível passar este dia sem olharmos para nós. Mas podemos fazê-lo com consciência. E simplicidade.

Garantimos com altivez que Camões é o grande escritor da língua portuguesa e um dos maiores poetas do mundo, mas talvez fosse preferível estudá-lo, dá-lo a conhecer e garantir a sua perenidade.

Afirmamos, com brio, que os portugueses navegadores descobriram os caminhos do mundo nos séculos XV e XVI e que os portugueses emigrantes os percorreram desde então. Mais vale afirmá-lo com o sentido do dever de contribuir para a solidez desta comunidade.

Dizemos, com orgulho, que o Português é uma das seis grandes línguas do mundo. Mas deveríamos talvez dizê-lo com a responsabilidade que tal facto nos confere.

Quando se escolhe um português que nos representa, que nos resume, escolhe-se um herói. Ele é Camões. Podemos festejá-lo com narcisismo. Mas também com a decência de quem nele procura o melhor.

Os nossos maiores heróis, com Camões à cabeça, ilustraram-se pela liberdade e pelo espírito insubmisso. Pela aventura e pelo esforço empreendedor. Pela sua humanidade e, algumas vezes, pela tolerância. Infelizmente, foram tantas vezes utilizados com o exacto sentido oposto: obedientes ou símbolos de uma superioridade obscena.

Ainda hoje soubemos prestar homenagem a Salgueiro Maia. Nele, festejámos a liberdade, mas também aquele homem. Que esta homenagem não se substitua, ritualmente, ao nosso dever de cuidar da democracia.

As comemorações nacionais têm a frequente tentação de sublinhar ou inventar o excepcional. O carácter único de um povo. A sua glória. Mas todos sentimos, hoje, os limites dessa receita nacionalista. Na verdade, comemorar Portugal e festejar os Portugueses pode ser acto de lucidez e consciência. No nosso passado, personificado em Camões, o que mais impressiona é a desproporção entre o povo e os feitos, entre a dimensão e a obra. Assim como esta extraordinária capacidade de resistir, base da "persistência da nacionalidade", como disse Orlando Ribeiro. Mas que isso não apague ou esbata o resto. Festejar Camões não é partilhar o sentido épico que ele soube dar à sua obra maior, mas é perceber o homem, a sua liberdade e a sua criatividade. Como também é perceber o que fizemos de bem e o que fizemos de mal. Descobrimos mundos, mas fizemos a guerra, por vezes injusta. Civilizámos, mas também colonizámos sem humanidade. Soubemos encontrar a liberdade, mas perdemos anos com guerras e ditaduras.

Fizemos a democracia, mas não somos capazes de organizar a justiça. Alargámos a educação, mas ainda não soubemos dar uma boa instrução. Fizemos bem e mal. Soubemos abandonar a mitologia absurda do país excepcional, único, a fim de nos transformarmos num país como os outros. Mas que é o nosso. Por isso, temos de nos ocupar dele. Para que não sejam outros a fazê-lo.

Há mais de trinta anos, neste dia, Jorge de Sena deixou palavras que ecoam. Trouxe-nos um Camões humano, sabedor, contraditório, irreverente, subversivo mesmo.

Desde então, muito mudou. O regime democrático consolidou-se. Recheado de defeitos, é certo. Ainda a viver com muita crispação, com certeza. Mas com regras de vida em liberdade.

Evoluiu a situação das mulheres, a sua presença na sociedade. Invisíveis durante tanto tempo, submissas ainda há pouco, as mulheres já fizeram um país diferente.

Mudou até a constituição do povo. A sociedade plural em que vivemos hoje, com vários deuses e credos, com dois sexos iguais, com diversas línguas e muitos costumes, com os partidos e as associações que se queira, seria irreconhecível aos nossos próximos antepassados.

A sociedade e o país abriram-se ao mundo. No emprego, no comércio, no estudo, nas viagens, nas relações individuais e até no casamento, a sociedade aberta é uma novidade recente.

A pertença à União Europeia, timidamente desejada há três décadas, nem sequer por todos, é um facto consumado.

A estes trinta anos pertence também o Estado de protecção social, com especial relevo para o Serviço Nacional de Saúde, a segurança social universal e a escolarização da população jovem. É certamente uma das realizações maiores.

Estas transformações são motivo de regozijo. Mas este não deve iludir o que ainda precisa de mudança. O que não foi possível fazer progredir. E a mudança que correu mal.

A Sociedade e o Estado são ainda excessivamente centralizados. As desigualdades sociais persistem para além do aceitável. A injustiça é perene. A falta de justiça também. 0 favor ainda vence vezes de mais o mérito. O endividamento de todos, país, Estado, empresas e famílias é excessivo e hipoteca a próxima geração. A nossa pertença à União Europeia não é claramente discutida e não provoca um pensamento sério sobre o nosso futuro como nacionalidade independente.

Há poucos dias, a eleição europeia confirmou situações e diagnósticos conhecidos. A elevadíssima abstenção mostrou uma vez mais a permanente crise de legitimidade e de representatividade das instituições europeias. A cidadania europeia é uma noção vaga e incerta. É um conceito inventado por políticos e juristas, não é uma realidade vivida e percebida pelos povos. É um pretexto de Estado, não um sentimento dos povos. A pertença à Europa é, para os cidadãos, uma metafísica sem tradição cultural, espiritual ou política. Os Estados e os povos europeus deveriam pensar de novo, uma, duas, três vezes, antes de prosseguir caminhos sem saída ou falsos percursos que terminam mal. E nós fazemos parte desse número de Estados e povos que têm a obrigação de pensar melhor o seu futuro, o futuro dos Portugueses que vêm a seguir.

É a pensar nessas gerações que devemos aproveitar uma comemoração e um herói para melhor ligar o passado com o futuro.

Não usemos os nossos heróis para nos desculpar. Usemo-los como exemplos. Porque o exemplo tem efeitos mais duráveis do que qualquer ensino voluntarista.

Pela justiça e pela tolerância, os portugueses precisam mais de exemplo do que de lições morais.

Pela honestidade e contra a corrupção, os portugueses necessitam de exemplo, bem mais do que de sermões.

Pela eficácia, pela pontualidade, pelo atendimento público e pela civilidade dos costumes, os portugueses serão mais sensíveis ao exemplo do que à ameaça ou ao desprezo.

Pela liberdade e pelo respeito devido aos outros, os portugueses aprenderão mais com o exemplo do que com declarações solenes.

Contra a decadência moral e cívica, os portugueses terão mais a ganhar com o exemplo do que com discursos pomposos.

Pela recompensa ao mérito e a punição do favoritismo, os portugueses seguirão o exemplo com mais elevado sentido de justiça.

Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo "ethos" deveria ser o de servir.

Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar "sinais de esperança" ou "mensagens de confiança". Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.

Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários: tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.

Em momentos de crise económica, de abaixamento dos critérios morais no exercício de funções empresariais ou políticas, o bom exemplo pode ser a chave, não para as soluções milagrosas, mas para o esforço de recuperação do país.

junho 06, 2009

Eleições Europeias

Amanhã vota-se em Portugal.

Apesar de em larga medida achar que os que serão eleitos não merecem a eleição que amanhã se irá processar, o imperativo maior é e será sempre, o de votar!

Deixo-vos uma ilustração do que irão encontrar amanhã nas mesas de voto...

Boa sorte!

6 Junho de 1944: Dia D

Homenagem a todos aqueles que um dia decidiram combater a tirania que chegou a oprimir o mundo...

O Discurso

Vale a pena ouvir e ler o discurso que Obama proferiu no Cairo esta semana que passou.



A New Beginning

I am honored to be in the timeless city of Cairo, and to be hosted by two remarkable institutions. For over a thousand years, Al-Azhar has stood as a beacon of Islamic learning, and for over a century, Cairo University has been a source of Egypt's advancement. Together, you represent the harmony between tradition and progress. I am grateful for your hospitality, and the hospitality of the people of Egypt. I am also proud to carry with me the goodwill of the American people, and a greeting of peace from Muslim communities in my country: assalaamu alaykum.

We meet at a time of tension between the United States and Muslims around the world - tension rooted in historical forces that go beyond any current policy debate. The relationship between Islam and the West includes centuries of co-existence and cooperation, but also conflict and religious wars. More recently, tension has been fed by colonialism that denied rights and opportunities to many Muslims, and a Cold War in which Muslim-majority countries were too often treated as proxies without regard to their own aspirations. Moreover, the sweeping change brought by modernity and globalization led many Muslims to view the West as hostile to the traditions of Islam.

Violent extremists have exploited these tensions in a small but potent minority of Muslims. The attacks of September 11th, 2001 and the continued efforts of these extremists to engage in violence against civilians has led some in my country to view Islam as inevitably hostile not only to America and Western countries, but also to human rights. This has bred more fear and mistrust.

So long as our relationship is defined by our differences, we will empower those who sow hatred rather than peace, and who promote conflict rather than the cooperation that can help all of our people achieve justice and prosperity. This cycle of suspicion and discord must end.

I have come here to seek a new beginning between the United States and Muslims around the world; one based upon mutual interest and mutual respect; and one based upon the truth that America and Islam are not exclusive, and need not be in competition. Instead, they overlap, and share common principles - principles of justice and progress; tolerance and the dignity of all human beings.

I do so recognizing that change cannot happen overnight. No single speech can eradicate years of mistrust, nor can I answer in the time that I have all the complex questions that brought us to this point. But I am convinced that in order to move forward, we must say openly the things we hold in our hearts, and that too often are said only behind closed doors. There must be a sustained effort to listen to each other; to learn from each other; to respect one another; and to seek common ground. As the Holy Koran tells us, "Be conscious of God and speak always the truth." That is what I will try to do - to speak the truth as best I can, humbled by the task before us, and firm in my belief that the interests we share as human beings are far more powerful than the forces that drive us apart.

Part of this conviction is rooted in my own experience. I am a Christian, but my father came from a Kenyan family that includes generations of Muslims. As a boy, I spent several years in Indonesia and heard the call of the azaan at the break of dawn and the fall of dusk. As a young man, I worked in Chicago communities where many found dignity and peace in their Muslim faith.

As a student of history, I also know civilization's debt to Islam. It was Islam - at places like Al-Azhar University - that carried the light of learning through so many centuries, paving the way for Europe's Renaissance and Enlightenment. It was innovation in Muslim communities that developed the order of algebra; our magnetic compass and tools of navigation; our mastery of pens and printing; our understanding of how disease spreads and how it can be healed. Islamic culture has given us majestic arches and soaring spires; timeless poetry and cherished music; elegant calligraphy and places of peaceful contemplation. And throughout history, Islam has demonstrated through words and deeds the possibilities of religious tolerance and racial equality.

I know, too, that Islam has always been a part of America's story. The first nation to recognize my country was Morocco. In signing the Treaty of Tripoli in 1796, our second President John Adams wrote, "The United States has in itself no character of enmity against the laws, religion or tranquility of Muslims." And since our founding, American Muslims have enriched the United States. They have fought in our wars, served in government, stood for civil rights, started businesses, taught at our Universities, excelled in our sports arenas, won Nobel Prizes, built our tallest building, and lit the Olympic Torch. And when the first Muslim-American was recently elected to Congress, he took the oath to defend our Constitution using the same Holy Koran that one of our Founding Fathers - Thomas Jefferson - kept in his personal library.

So I have known Islam on three continents before coming to the region where it was first revealed. That experience guides my conviction that partnership between America and Islam must be based on what Islam is, not what it isn't. And I consider it part of my responsibility as President of the United States to fight against negative stereotypes of Islam wherever they appear.

But that same principle must apply to Muslim perceptions of America. Just as Muslims do not fit a crude stereotype, America is not the crude stereotype of a self-interested empire. The United States has been one of the greatest sources of progress that the world has ever known. We were born out of revolution against an empire. We were founded upon the ideal that all are created equal, and we have shed blood and struggled for centuries to give meaning to those words - within our borders, and around the world. We are shaped by every culture, drawn from every end of the Earth, and dedicated to a simple concept: E pluribus unum: "Out of many, one."

Much has been made of the fact that an African-American with the name Barack Hussein Obama could be elected President. But my personal story is not so unique. The dream of opportunity for all people has not come true for everyone in America, but its promise exists for all who come to our shores - that includes nearly seven million American Muslims in our country today who enjoy incomes and education that are higher than average.

Moreover, freedom in America is indivisible from the freedom to practice one's religion. That is why there is a mosque in every state of our union, and over 1,200 mosques within our borders. That is why the U.S. government has gone to court to protect the right of women and girls to wear the hijab, and to punish those who would deny it.

So let there be no doubt: Islam is a part of America. And I believe that America holds within her the truth that regardless of race, religion, or station in life, all of us share common aspirations - to live in peace and security; to get an education and to work with dignity; to love our families, our communities, and our God. These things we share. This is the hope of all humanity.

Of course, recognizing our common humanity is only the beginning of our task. Words alone cannot meet the needs of our people. These needs will be met only if we act boldly in the years ahead; and if we understand that the challenges we face are shared, and our failure to meet them will hurt us all.

For we have learned from recent experience that when a financial system weakens in one country, prosperity is hurt everywhere. When a new flu infects one human being, all are at risk. When one nation pursues a nuclear weapon, the risk of nuclear attack rises for all nations. When violent extremists operate in one stretch of mountains, people are endangered across an ocean. And when innocents in Bosnia and Darfur are slaughtered, that is a stain on our collective conscience. That is what it means to share this world in the 21st century. That is the responsibility we have to one another as human beings.

This is a difficult responsibility to embrace. For human history has often been a record of nations and tribes subjugating one another to serve their own interests. Yet in this new age, such attitudes are self-defeating. Given our interdependence, any world order that elevates one nation or group of people over another will inevitably fail. So whatever we think of the past, we must not be prisoners of it. Our problems must be dealt with through partnership; progress must be shared.

That does not mean we should ignore sources of tension. Indeed, it suggests the opposite: we must face these tensions squarely. And so in that spirit, let me speak as clearly and plainly as I can about some specific issues that I believe we must finally confront together.

The first issue that we have to confront is violent extremism in all of its forms.

In Ankara, I made clear that America is not - and never will be - at war with Islam. We will, however, relentlessly confront violent extremists who pose a grave threat to our security. Because we reject the same thing that people of all faiths reject: the killing of innocent men, women, and children. And it is my first duty as President to protect the American people.

The situation in Afghanistan demonstrates America's goals, and our need to work together. Over seven years ago, the United States pursued al Qaeda and the Taliban with broad international support. We did not go by choice, we went because of necessity. I am aware that some question or justify the events of 9/11. But let us be clear: al Qaeda killed nearly 3,000 people on that day. The victims were innocent men, women and children from America and many other nations who had done nothing to harm anybody. And yet Al Qaeda chose to ruthlessly murder these people, claimed credit for the attack, and even now states their determination to kill on a massive scale. They have affiliates in many countries and are trying to expand their reach. These are not opinions to be debated; these are facts to be dealt with.

Make no mistake: we do not want to keep our troops in Afghanistan. We seek no military bases there. It is agonizing for America to lose our young men and women. It is costly and politically difficult to continue this conflict. We would gladly bring every single one of our troops home if we could be confident that there were not violent extremists in Afghanistan and Pakistan determined to kill as many Americans as they possibly can. But that is not yet the case.

That's why we're partnering with a coalition of forty-six countries. And despite the costs involved, America's commitment will not weaken. Indeed, none of us should tolerate these extremists. They have killed in many countries. They have killed people of different faiths - more than any other, they have killed Muslims. Their actions are irreconcilable with the rights of human beings, the progress of nations, and with Islam. The Holy Koran teaches that whoever kills an innocent, it is as if he has killed all mankind; and whoever saves a person, it is as if he has saved all mankind. The enduring faith of over a billion people is so much bigger than the narrow hatred of a few. Islam is not part of the problem in combating violent extremism - it is an important part of promoting peace.

We also know that military power alone is not going to solve the problems in Afghanistan and Pakistan. That is why we plan to invest $1.5 billion each year over the next five years to partner with Pakistanis to build schools and hospitals, roads and businesses, and hundreds of millions to help those who have been displaced. And that is why we are providing more than $2.8 billion to help Afghans develop their economy and deliver services that people depend upon.

Let me also address the issue of Iraq. Unlike Afghanistan, Iraq was a war of choice that provoked strong differences in my country and around the world. Although I believe that the Iraqi people are ultimately better off without the tyranny of Saddam Hussein, I also believe that events in Iraq have reminded America of the need to use diplomacy and build international consensus to resolve our problems whenever possible. Indeed, we can recall the words of Thomas Jefferson, who said: "I hope that our wisdom will grow with our power, and teach us that the less we use our power the greater it will be."

Today, America has a dual responsibility: to help Iraq forge a better future - and to leave Iraq to Iraqis. I have made it clear to the Iraqi people that we pursue no bases, and no claim on their territory or resources. Iraq's sovereignty is its own. That is why I ordered the removal of our combat brigades by next August. That is why we will honor our agreement with Iraq's democratically-elected government to remove combat troops from Iraqi cities by July, and to remove all our troops from Iraq by 2012. We will help Iraq train its Security Forces and develop its economy. But we will support a secure and united Iraq as a partner, and never as a patron.

And finally, just as America can never tolerate violence by extremists, we must never alter our principles. 9/11 was an enormous trauma to our country. The fear and anger that it provoked was understandable, but in some cases, it led us to act contrary to our ideals. We are taking concrete actions to change course. I have unequivocally prohibited the use of torture by the United States, and I have ordered the prison at Guantanamo Bay closed by early next year.

So America will defend itself respectful of the sovereignty of nations and the rule of law. And we will do so in partnership with Muslim communities which are also threatened. The sooner the extremists are isolated and unwelcome in Muslim communities, the sooner we will all be safer.

The second major source of tension that we need to discuss is the situation between Israelis, Palestinians and the Arab world.

America's strong bonds with Israel are well known. This bond is unbreakable. It is based upon cultural and historical ties, and the recognition that the aspiration for a Jewish homeland is rooted in a tragic history that cannot be denied.

Around the world, the Jewish people were persecuted for centuries, and anti-Semitism in Europe culminated in an unprecedented Holocaust. Tomorrow, I will visit Buchenwald, which was part of a network of camps where Jews were enslaved, tortured, shot and gassed to death by the Third Reich. Six million Jews were killed - more than the entire Jewish population of Israel today. Denying that fact is baseless, ignorant, and hateful. Threatening Israel with destruction - or repeating vile stereotypes about Jews - is deeply wrong, and only serves to evoke in the minds of Israelis this most painful of memories while preventing the peace that the people of this region deserve.

On the other hand, it is also undeniable that the Palestinian people - Muslims and Christians - have suffered in pursuit of a homeland. For more than sixty years they have endured the pain of dislocation. Many wait in refugee camps in the West Bank, Gaza, and neighboring lands for a life of peace and security that they have never been able to lead. They endure the daily humiliations - large and small - that come with occupation. So let there be no doubt: the situation for the Palestinian people is intolerable. America will not turn our backs on the legitimate Palestinian aspiration for dignity, opportunity, and a state of their own.

For decades, there has been a stalemate: two peoples with legitimate aspirations, each with a painful history that makes compromise elusive. It is easy to point fingers - for Palestinians to point to the displacement brought by Israel's founding, and for Israelis to point to the constant hostility and attacks throughout its history from within its borders as well as beyond. But if we see this conflict only from one side or the other, then we will be blind to the truth: the only resolution is for the aspirations of both sides to be met through two states, where Israelis and Palestinians each live in peace and security.

That is in Israel's interest, Palestine's interest, America's interest, and the world's interest. That is why I intend to personally pursue this outcome with all the patience that the task requires. The obligations that the parties have agreed to under the Road Map are clear. For peace to come, it is time for them - and all of us - to live up to our responsibilities.

Palestinians must abandon violence. Resistance through violence and killing is wrong and does not succeed. For centuries, black people in America suffered the lash of the whip as slaves and the humiliation of segregation. But it was not violence that won full and equal rights. It was a peaceful and determined insistence upon the ideals at the center of America's founding. This same story can be told by people from South Africa to South Asia; from Eastern Europe to Indonesia. It's a story with a simple truth: that violence is a dead end. It is a sign of neither courage nor power to shoot rockets at sleeping children, or to blow up old women on a bus. That is not how moral authority is claimed; that is how it is surrendered.

Now is the time for Palestinians to focus on what they can build. The Palestinian Authority must develop its capacity to govern, with institutions that serve the needs of its people. Hamas does have support among some Palestinians, but they also have responsibilities. To play a role in fulfilling Palestinian aspirations, and to unify the Palestinian people, Hamas must put an end to violence, recognize past agreements, and recognize Israel's right to exist.

At the same time, Israelis must acknowledge that just as Israel's right to exist cannot be denied, neither can Palestine's. The United States does not accept the legitimacy of continued Israeli settlements. This construction violates previous agreements and undermines efforts to achieve peace. It is time for these settlements to stop.

Israel must also live up to its obligations to ensure that Palestinians can live, and work, and develop their society. And just as it devastates Palestinian families, the continuing humanitarian crisis in Gaza does not serve Israel's security; neither does the continuing lack of opportunity in the West Bank. Progress in the daily lives of the Palestinian people must be part of a road to peace, and Israel must take concrete steps to enable such progress.

Finally, the Arab States must recognize that the Arab Peace Initiative was an important beginning, but not the end of their responsibilities. The Arab-Israeli conflict should no longer be used to distract the people of Arab nations from other problems. Instead, it must be a cause for action to help the Palestinian people develop the institutions that will sustain their state; to recognize Israel's legitimacy; and to choose progress over a self-defeating focus on the past.

America will align our policies with those who pursue peace, and say in public what we say in private to Israelis and Palestinians and Arabs. We cannot impose peace. But privately, many Muslims recognize that Israel will not go away. Likewise, many Israelis recognize the need for a Palestinian state. It is time for us to act on what everyone knows to be true.

Too many tears have flowed. Too much blood has been shed. All of us have a responsibility to work for the day when the mothers of Israelis and Palestinians can see their children grow up without fear; when the Holy Land of three great faiths is the place of peace that God intended it to be; when Jerusalem is a secure and lasting home for Jews and Christians and Muslims, and a place for all of the children of Abraham to mingle peacefully together as in the story of Isra, when Moses, Jesus, and Mohammed (peace be upon them) joined in prayer.

The third source of tension is our shared interest in the rights and responsibilities of nations on nuclear weapons.

This issue has been a source of tension between the United States and the Islamic Republic of Iran. For many years, Iran has defined itself in part by its opposition to my country, and there is indeed a tumultuous history between us. In the middle of the Cold War, the United States played a role in the overthrow of a democratically-elected Iranian government. Since the Islamic Revolution, Iran has played a role in acts of hostage-taking and violence against U.S. troops and civilians. This history is well known. Rather than remain trapped in the past, I have made it clear to Iran's leaders and people that my country is prepared to move forward. The question, now, is not what Iran is against, but rather what future it wants to build.

It will be hard to overcome decades of mistrust, but we will proceed with courage, rectitude and resolve. There will be many issues to discuss between our two countries, and we are willing to move forward without preconditions on the basis of mutual respect. But it is clear to all concerned that when it comes to nuclear weapons, we have reached a decisive point. This is not simply about America's interests. It is about preventing a nuclear arms race in the Middle East that could lead this region and the world down a hugely dangerous path.

I understand those who protest that some countries have weapons that others do not. No single nation should pick and choose which nations hold nuclear weapons. That is why I strongly reaffirmed America's commitment to seek a world in which no nations hold nuclear weapons. And any nation - including Iran - should have the right to access peaceful nuclear power if it complies with its responsibilities under the nuclear Non-Proliferation Treaty. That commitment is at the core of the Treaty, and it must be kept for all who fully abide by it. And I am hopeful that all countries in the region can share in this goal.

The fourth issue that I will address is democracy.

I know there has been controversy about the promotion of democracy in recent years, and much of this controversy is connected to the war in Iraq. So let me be clear: no system of government can or should be imposed upon one nation by any other.

That does not lessen my commitment, however, to governments that reflect the will of the people. Each nation gives life to this principle in its own way, grounded in the traditions of its own people. America does not presume to know what is best for everyone, just as we would not presume to pick the outcome of a peaceful election. But I do have an unyielding belief that all people yearn for certain things: the ability to speak your mind and have a say in how you are governed; confidence in the rule of law and the equal administration of justice; government that is transparent and doesn't steal from the people; the freedom to live as you choose. Those are not just American ideas, they are human rights, and that is why we will support them everywhere.

There is no straight line to realize this promise. But this much is clear: governments that protect these rights are ultimately more stable, successful and secure. Suppressing ideas never succeeds in making them go away. America respects the right of all peaceful and law-abiding voices to be heard around the world, even if we disagree with them. And we will welcome all elected, peaceful governments - provided they govern with respect for all their people.

This last point is important because there are some who advocate for democracy only when they are out of power; once in power, they are ruthless in suppressing the rights of others. No matter where it takes hold, government of the people and by the people sets a single standard for all who hold power: you must maintain your power through consent, not coercion; you must respect the rights of minorities, and participate with a spirit of tolerance and compromise; you must place the interests of your people and the legitimate workings of the political process above your party. Without these ingredients, elections alone do not make true democracy.

The fifth issue that we must address together is religious freedom.

Islam has a proud tradition of tolerance. We see it in the history of Andalusia and Cordoba during the Inquisition. I saw it firsthand as a child in Indonesia, where devout Christians worshiped freely in an overwhelmingly Muslim country. That is the spirit we need today. People in every country should be free to choose and live their faith based upon the persuasion of the mind, heart, and soul. This tolerance is essential for religion to thrive, but it is being challenged in many different ways.

Among some Muslims, there is a disturbing tendency to measure one's own faith by the rejection of another's. The richness of religious diversity must be upheld - whether it is for Maronites in Lebanon or the Copts in Egypt. And fault lines must be closed among Muslims as well, as the divisions between Sunni and Shia have led to tragic violence, particularly in Iraq.

Freedom of religion is central to the ability of peoples to live together. We must always examine the ways in which we protect it. For instance, in the United States, rules on charitable giving have made it harder for Muslims to fulfill their religious obligation. That is why I am committed to working with American Muslims to ensure that they can fulfill zakat.

Likewise, it is important for Western countries to avoid impeding Muslim citizens from practicing religion as they see fit - for instance, by dictating what clothes a Muslim woman should wear. We cannot disguise hostility towards any religion behind the pretence of liberalism.

Indeed, faith should bring us together. That is why we are forging service projects in America that bring together Christians, Muslims, and Jews. That is why we welcome efforts like Saudi Arabian King Abdullah's Interfaith dialogue and Turkey's leadership in the Alliance of Civilizations. Around the world, we can turn dialogue into Interfaith service, so bridges between peoples lead to action - whether it is combating malaria in Africa, or providing relief after a natural disaster.

The sixth issue that I want to address is women's rights.

I know there is debate about this issue. I reject the view of some in the West that a woman who chooses to cover her hair is somehow less equal, but I do believe that a woman who is denied an education is denied equality. And it is no coincidence that countries where women are well-educated are far more likely to be prosperous.

Now let me be clear: issues of women's equality are by no means simply an issue for Islam. In Turkey, Pakistan, Bangladesh and Indonesia, we have seen Muslim-majority countries elect a woman to lead. Meanwhile, the struggle for women's equality continues in many aspects of American life, and in countries around the world.

Our daughters can contribute just as much to society as our sons, and our common prosperity will be advanced by allowing all humanity - men and women - to reach their full potential. I do not believe that women must make the same choices as men in order to be equal, and I respect those women who choose to live their lives in traditional roles. But it should be their choice. That is why the United States will partner with any Muslim-majority country to support expanded literacy for girls, and to help young women pursue employment through micro-financing that helps people live their dreams.

Finally, I want to discuss economic development and opportunity.

I know that for many, the face of globalization is contradictory. The Internet and television can bring knowledge and information, but also offensive sexuality and mindless violence. Trade can bring new wealth and opportunities, but also huge disruptions and changing communities. In all nations - including my own - this change can bring fear. Fear that because of modernity we will lose of control over our economic choices, our politics, and most importantly our identities - those things we most cherish about our communities, our families, our traditions, and our faith.

But I also know that human progress cannot be denied. There need not be contradiction between development and tradition. Countries like Japan and South Korea grew their economies while maintaining distinct cultures. The same is true for the astonishing progress within Muslim-majority countries from Kuala Lumpur to Dubai. In ancient times and in our times, Muslim communities have been at the forefront of innovation and education.

This is important because no development strategy can be based only upon what comes out of the ground, nor can it be sustained while young people are out of work. Many Gulf States have enjoyed great wealth as a consequence of oil, and some are beginning to focus it on broader development. But all of us must recognize that education and innovation will be the currency of the 21st century, and in too many Muslim communities there remains underinvestment in these areas. I am emphasizing such investments within my country. And while America in the past has focused on oil and gas in this part of the world, we now seek a broader engagement.

On education, we will expand exchange programs, and increase scholarships, like the one that brought my father to America, while encouraging more Americans to study in Muslim communities. And we will match promising Muslim students with internships in America; invest in on-line learning for teachers and children around the world; and create a new online network, so a teenager in Kansas can communicate instantly with a teenager in Cairo.

On economic development, we will create a new corps of business volunteers to partner with counterparts in Muslim-majority countries. And I will host a Summit on Entrepreneurship this year to identify how we can deepen ties between business leaders, foundations and social entrepreneurs in the United States and Muslim communities around the world.

On science and technology, we will launch a new fund to support technological development in Muslim-majority countries, and to help transfer ideas to the marketplace so they can create jobs. We will open centers of scientific excellence in Africa, the Middle East and Southeast Asia, and appoint new Science Envoys to collaborate on programs that develop new sources of energy, create green jobs, digitize records, clean water, and grow new crops. And today I am announcing a new global effort with the Organization of the Islamic Conference to eradicate polio. And we will also expand partnerships with Muslim communities to promote child and maternal health.

All these things must be done in partnership. Americans are ready to join with citizens and governments; community organizations, religious leaders, and businesses in Muslim communities around the world to help our people pursue a better life.

The issues that I have described will not be easy to address. But we have a responsibility to join together on behalf of the world we seek - a world where extremists no longer threaten our people, and American troops have come home; a world where Israelis and Palestinians are each secure in a state of their own, and nuclear energy is used for peaceful purposes; a world where governments serve their citizens, and the rights of all God's children are respected. Those are mutual interests. That is the world we seek. But we can only achieve it together.

I know there are many - Muslim and non-Muslim - who question whether we can forge this new beginning. Some are eager to stoke the flames of division, and to stand in the way of progress. Some suggest that it isn't worth the effort - that we are fated to disagree, and civilizations are doomed to clash. Many more are simply skeptical that real change can occur. There is so much fear, so much mistrust. But if we choose to be bound by the past, we will never move forward. And I want to particularly say this to young people of every faith, in every country - you, more than anyone, have the ability to remake this world.

All of us share this world for but a brief moment in time. The question is whether we spend that time focused on what pushes us apart, or whether we commit ourselves to an effort - a sustained effort - to find common ground, to focus on the future we seek for our children, and to respect the dignity of all human beings.

It is easier to start wars than to end them. It is easier to blame others than to look inward; to see what is different about someone than to find the things we share. But we should choose the right path, not just the easy path. There is also one rule that lies at the heart of every religion - that we do unto others as we would have them do unto us. This truth transcends nations and peoples - a belief that isn't new; that isn't black or white or brown; that isn't Christian, or Muslim or Jew. It's a belief that pulsed in the cradle of civilization, and that still beats in the heart of billions. It's a faith in other people, and it's what brought me here today.

We have the power to make the world we seek, but only if we have the courage to make a new beginning, keeping in mind what has been written.

The Holy Koran tells us, "O mankind! We have created you male and a female; and we have made you into nations and tribes so that you may know one another."

The Talmud tells us: "The whole of the Torah is for the purpose of promoting peace."

The Holy Bible tells us, "Blessed are the peacemakers, for they shall be called sons of God."

The people of the world can live together in peace. We know that is God's vision. Now, that must be our work here on Earth. Thank you. And may God's peace be upon you.

junho 02, 2009

De quem é a culpa?

Ler a reportagem de hoje do Público sobre o colapso da GM e as consequências para a região de Detroit  (aqui), é como reler um sumário de uma versão revista e actualizada do livro  "As vinhas da ira".

É uma tragédia de dimensões colossais. 

Pergunto-me, então, como foi possível chegar a este ponto? Como foram possíveis anos consecutivos de investimento colossal num negócio sem viabilidade e desfazado claramente da realidade? 

Sim, porque não foi ontem que as marcas asiáticas (principalmente, com a Toyota no leme) e europeias começaram a demonstrar eloquentemente os pontos fracos da indústria automóvel americana - carros mastodontes, gastadores de gasolina como nenhuns outros, de fraca qualidade e design duvidoso e, acima de tudo, inseguros.

E, se fora da esfera de influência dos Estados Unidos, as vendas sempre foram paupérrimas, também não é já de ontem que o ultra-nacionalista mercado americano se rendeu às evidências que o carro "estrangeiro" apresentava predicados ímbatíveis para a indústria ianque.

Então, pergunta-se, de quem é a culpa? Das políticas corporativas da empresa? Certamente que sim. Dos irresponsáveis de Wall Street? Parece claro.

Mas, neste caso como em muitos outros, quer-me parecer que também os trabalhadores - e os sindicatos, nomeadamente - terão a sua quarta parte de culpa. Porque, isto de ser sindicalista, não pode ser apenas o de protestar contra o corte de postos de trabalho ou concessões nos direitos dos trabalhadores. Não pode ser só pedir menos horas de trabalho com melhores regalias salariais e sociais. Tem que ser também, apontar os problemas da empresa - principalmente quando se torna óbvio que o produto já não serve?

Não conheço exactamente o caso da actuação das sindicais na questão da GM, mas será que serviram bem os trabalhadores? Será que tudo o que podia ter sido feito o foi?

Milhares (milhões?) de pessoas irão sofrer as consequências de uma irresponsabilidade e de uma ilusão, cujo desfecho parecia evidente... E, essa evidência, não é de ontem...