junho 02, 2009

De quem é a culpa?

Ler a reportagem de hoje do Público sobre o colapso da GM e as consequências para a região de Detroit  (aqui), é como reler um sumário de uma versão revista e actualizada do livro  "As vinhas da ira".

É uma tragédia de dimensões colossais. 

Pergunto-me, então, como foi possível chegar a este ponto? Como foram possíveis anos consecutivos de investimento colossal num negócio sem viabilidade e desfazado claramente da realidade? 

Sim, porque não foi ontem que as marcas asiáticas (principalmente, com a Toyota no leme) e europeias começaram a demonstrar eloquentemente os pontos fracos da indústria automóvel americana - carros mastodontes, gastadores de gasolina como nenhuns outros, de fraca qualidade e design duvidoso e, acima de tudo, inseguros.

E, se fora da esfera de influência dos Estados Unidos, as vendas sempre foram paupérrimas, também não é já de ontem que o ultra-nacionalista mercado americano se rendeu às evidências que o carro "estrangeiro" apresentava predicados ímbatíveis para a indústria ianque.

Então, pergunta-se, de quem é a culpa? Das políticas corporativas da empresa? Certamente que sim. Dos irresponsáveis de Wall Street? Parece claro.

Mas, neste caso como em muitos outros, quer-me parecer que também os trabalhadores - e os sindicatos, nomeadamente - terão a sua quarta parte de culpa. Porque, isto de ser sindicalista, não pode ser apenas o de protestar contra o corte de postos de trabalho ou concessões nos direitos dos trabalhadores. Não pode ser só pedir menos horas de trabalho com melhores regalias salariais e sociais. Tem que ser também, apontar os problemas da empresa - principalmente quando se torna óbvio que o produto já não serve?

Não conheço exactamente o caso da actuação das sindicais na questão da GM, mas será que serviram bem os trabalhadores? Será que tudo o que podia ter sido feito o foi?

Milhares (milhões?) de pessoas irão sofrer as consequências de uma irresponsabilidade e de uma ilusão, cujo desfecho parecia evidente... E, essa evidência, não é de ontem...

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