junho 20, 2009

Bursaphelenchus xylophilus

Nota prévia: O texto que se segue é alegórico, e NÃO pretende retratar a praga do Nemátodo, que é bem real e nos afecta gravemente. Se o caro leitor procura informação factual sobre o verme, e a forma como impacta as nossas florestas, aconselho-o a seguir um dos links que se encontram no texto.


Este um artigo é dedicado um problema gravíssimo, uma praga que se espalha silenciosamente nas nossas florestas sem que nada nem ninguém pareça conseguir parar o seu rasto de morte e destruição: falo, obviamente, do Nemátodo da Madeira do Pinheiro.



É um parasita pernicioso, o Nemátodo. Aproveitando a mobilidade fornecida pelos insectos, propaga-se pela floresta, e aproveita qualquer brecha que possa encontrar no pinheiro saudável para entrar. Quando isto acontece, encontra-se já perdido não só o pinheiro insuspeito, mas toda a floresta. Isto porque, apesar de a infecção só se espalhar em determinada altura do ano, os seus efeitos manifestam-se ao longo de todo o ano, intensificando-se e consolidando as suas posições. Ao fim de mais um ciclo anual, voltam os insectos para redistribuir o verme pelas árvores restantes, e, com isso, continuar a progressão da pandemia.

Adiante-se, por fim, que as várias famílias de nemátodo - rubicunda; rubinegra; rubimagentosa, rubiamarela; ciano-magentosa - competem entre elas, mas são na prática difíceis de distinguir, e levam na prática à destruição do pinhal saudável de forma bastante semelhante. Por conseguinte, a luta contra a doença não se tem concentrado em nenhuma família em especial, mas na espécie enquanto toda.

Como, pergunta o caro leitor, podemos então reconhecer a presença de tão temível verme no nosso pinhal?

A resposta não é fácil. Ainda mais para alguém como eu, que das artes biológicas percebo pouco!

O que recomendo, acima de tudo, é que se informe na sua associação florestal. (Tenha apenas em atenção que a sua associação não esteja dominada por interesses dos madeireiros à cata de madeira boa a preço baixo. Como sempre, verifique sempre que a origem da informação é fidedigna, e alheia a interesses. Compare sempre a informação fornecida pelas ONG's e organizações internacionais com a dada pelas associações dependentes do subsidio estatal.)

Porém, estimadíssimo e paciente companheiro, tentarei não eximir a minha responsabilidade, e esboço em seguida pequenos sintomas que possam denunciar o verme no seu pinhal. Olhe então para o seu pinhal com atenção, e veja se o que observa coincide com o que descrevo em seguida:

  • Apesar do vento soprar de um só lado, os seus pinheiros oscilam para lados conflituosos. Por exemplo, se o vento sopra de norte, as copas das árvores balançarão para este e oeste, e não para sul como seria normal. Atente que, ainda mais estranho, os seus pinheiros não oscilam em conjunto em determinada direcção.

Esta é uma prova inequívoca da presença da doença no seu pinhal. Demonstra a confusão que o seu pinheiro tem em agir de acordo com as exigências da realidade. Normalmente, não só a resposta às necessidades do momento é inadequada, como ditada por interesses secundários, e nos primeiros estádios de infecção a forma como as árvores oscilam permite a identificação da família do verme infectante. Em estados mais avançados da doença, aumenta o autismo do pinheiro, e se antes os pinheiros ainda oscilavam em bloco, ultimamente acabarão por agitar-se de forma completamente individual e sem respeito pelas necessidades do pinhal.

No entanto, o efeito pode não ser evidente, pois é um fenómeno que desaparece bruscamente na altura do ano em que o Nemátodo se dedica a espalhar-se pelas árvores ainda não infectadas. Isto porque se torna imperativo aumentar ao máximo a receptividade dos pinheiros saudáveis, por forma a maximizar a área de influência da sua família. Nesta altura do ano, a competitividade entre as diversas famílias no seu pinhal é feroz, mas abafada. Os insectos com maior capacidade de propagação são arduamente disputados por entre as famílias, e, uma vez recrutados, partem à procura de brechas no pinheiro saudável para semear a destruição no pinhal.

  • A frescura da sombra da sua árvore desapareceu. Os solos secam, e tornam-se áridos.

A árvore infectada não produz copas frondosas, e absorve todos os nutrientes e água do terreno, o que acaba por afectar a capacidade produtiva da sua floresta. Assim, mesmo as espécies que não são afectadas pelo verme directamente, acabam por sofrer com o seu impacto.

Os terrenos depauperados, por outro lado, tornam difícil (se não mesmo impossível) a implementação de espécies resistentes ao nemátodo.

  • Em vez de pinha o seu pinhal produz "bolotas".

Os recursos usurpados pelas árvores infectadas, são canalizados para produtos estranhos à produção normal da sua floresta. Como os meios produtivos são inadequados, o produto só poderá de má qualidade: nem o porco mais faminto aceitará as "bolotas" que saem do seu pinhal afectado pelo Nemátodo. No entanto, essa produção será tão mais intensa quanto os recursos disponíveis escassos, o que precipita o fim do seu pinhal.

  • As aves migrantes, outrora abundantes, desapareceram por completo.

Nos últimos estádios da progressão da doença, o seu terreno privado de riquezas naturais e forças produtivas naturais e bem enquadradas, deixa de ser aprazível para toda a fauna, que é forçada a abandoná-lo e procurar espaços mais férteis.


Se, caro leitor, vê alguns (ou todos) os sintomas anteriormente descritos, não encontrará consolo em saber que, uma vez infectadas as árvores, elas dificilmente são recuperáveis. A única forma de combater a praga, é a de expurgar do seu pinhal os elementos contaminados numa fase ainda inicial da infecção. Se tal não acontece, o colapso do seu terreno é quase inevitável e a recuperação extremamente difícil, cara, e prolongada.

Assim, a melhor forma é mesmo a prevenção: isolar, na medida do possível, as infecções, e controlar eficazmente os insectos que disseminam o vírus. A melhor forma de o fazer, é justamente na altura em que os vírus se encontram mais vulneráveis: quando tentam expandir-se. Nessa altura, a acção do produtor florestal é essencial: se aplicar "correctivo" em suficiência, e favorecer espécies resistentes ao vírus florestal, poderá controlar - em casos especiais, reduzir inclusivamente - a praga.


Escrevo este artigo, porque 2009 é um ano especial no combate a este perigo que assola o nosso território. Em 2009, o vírus está especialmente em crise, com um período extremamente prolongado de vulnerabilidade. Assim, está nas nossas mãos, aplicar os correctivos em quantidade e na hora certa.

O futuro da nossa floresta depende de nós!

Obrigado.

(Ps: O problema do Nemátodo é um problema real, e que não tem relação com o que pretendo retratar aqui - que não deixa de ser um problema real. Apesar da pouca informação disponibilizada (ver também aqui), as florestas de Portugal tem sido extremamente afectadas por este vírus, que põe em causa o equilíbrio ecológico nacional, e toda a produção florestal nacional.)

1 comentário:

Buterfly disse...

Só tu para um post deste teor... :-)