junho 29, 2009

O Manifesto do Ignorante

Em resposta aos manifestos emanados pelo grupo dos 28, e pelo grupo dos 60, eu, ignorante nas matérias e desconhecedor das teorias politico-económicas, tenho a dizer o seguinte.

Antes de mais, gostaria de agradecer a todos os 88 que participaram em ambos os manifestos. A sua opinião é por certo valiosa, e o seu contributo indispensável no Portugal que queremos construir. Antes pudéssemos ter participações semelhantes em mais áreas da vida publica, e certamente o país estaria em melhor estado!

Já tenho tido ocasião de escrever neste espaço sobre a luta intestina que vai nos meios académicos e políticos sobre esta crise, e como ela tem servido de arma de arremesso nesta discussão.

Vejo, pois, com naturalidade que estes manifestos estejam a ser encarados como uma cristalização dessa luta para o espaço público: O manifesto original, dos 28, teoricamente como uma exposição das perspectivas conservadoras de centro-direita, e a resposta, dos 60, exigindo uma actuação mais "de esquerda". Acredito inclusivamente, que o sejam de facto.

No entanto, se eles transmitem perspectivas diferentes e atitudes contraditórias, pouco disso se extrai dos textos - digo eu!, que sou ignorante nas matérias...

Ambos os manifestos concordam que o estado da economia nacional é mau e vem de trás. Ambos falam na eficiência do investimento público. Ambos, mencionam o desemprego e as tensões sociais.

Para além disso, as divergências entre os textos é uma das seguintes: semântica, retórica, ou pura e simplesmente a colocação de alhos onde a outra fala bugalhos.

Por esse motivo, não é para mim líquido que o M60 tenha sido escrito com o simples objectivo de responder ou contrariar o M28. Aliás, se era esse o objectivo, parece-me que falha redondamente. Prefiro encarar os textos como contribuições diferentes para o debate sobre o caminho a seguir.

O M28 não nega a necessidade do investimento público; antes salienta a necessidade desse investimento dever ser bem orientado para projectos que criem valor acrescentado na economia Portuguesa, duvidando nomeadamente dos 3 maiores projectos encetados pelo Governo actual: Aeroporto de Lisboa, TGV, e Auto-estradas.

Basta ver a história contada no Público de ontem pelo Engº. Alberto Aroso sobre a forma como se fizeram os estudos para o aproveitamento hidro-eléctrico do vale do Tua, para perceber a pertinência do apelo expresso no M28: Em Portugal, os "estudos" que se fazem para determinada empreitada são condicionados pela vontade inicial de a realizar. Outros exemplos famosos: A o traçado do TGV, a questão da OTA, o FREEPORT. Apenas para mencionar alguns.

Por outro lado, o M60 exige mais investimento público, e que o mesmo seja orientado à geração de emprego e diminuição dos problemas sociais. Na prática, nega portanto os projectos avançados pelo Governo, que exigem um investimento (supra-)nacional mas cuja execução é mais do que local, e cujo benefício é extremamente duvidoso.

Haverá quem argumente (a tese do governo), que a construção destas grandes empreitadas gera emprego. A esses, relembro que numa lógica europeia existem grandes consórcios internacionais a operar em território nacional no sector das grandes obras públicas, e que, como em todas as restantes áreas - da agricultura às pescas, passando pelo têxtil, pela metalurgia, pelas actividades extractivas, etc etc etc etc (um grande etc) - fazem mais barato e melhor que nós, pelo que mais provável é que a maior parte do TGV seja feito por espanhóis, as auto-estradas por alemães, os aeroportos por franceses, etc. Alguns empregos serão criados a nível nacional - não tenho dúvidas disso - mas acreditar que serão tantos quando o governo anuncia, ou a solução para os nossos males, é completamente irrealista!

Pela minha parte, subscrevo ambos na medida em que condenam esta mania das obras faraónicas completamente desnecessárias e ridículas!

Quanto ao resto, fica-me a saber a pouco... Gostaria mesmo, era de saber que tipo de investimentos é que seriam de executar para combater a crise...

E, se possível, que os opinion-makers nacionais não gastassem energias a atirar areia para os nossos olhos com tricas estéreis e sem substrato, e ajudassem de facto a esclarecer onde estamos, e para onde devemos ir.

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