abril 20, 2009

Ataque cego

Não demorou muito tempo, a resposta de José Sócrates à intervenção de Cavaco Silva no 4.º Congresso da Associação Cristã de Empresários e Gestores. E, meus senhores, que resposta!

Fazendo jus ao seu Ministro Santos Silva, avançou estóicamente e com galhardia o Primeiro Ministro, disparando à esquerda e à esquerda!

Iluminado pela providência divina, lá nos explicou mais uma vez o caminho: "(...) não precisamos da política do recado, do remoque, do pessimismo, do bota-abaixismo, da crítica fácil" - isto é, de quem não concorda com ele - mas sim de "políticos que dizem o que é preciso fazer, o que é possível fazer, e o que está ao seu alcance fazer" - dele, imagino eu...

Cada vez mais sobre pressão, o pequeno ditador começa a embirrar. O discurso, antes altivo e superior, não goza mais da frescura inicial, está cada vez mais gasto, se bem que mantenha intacta a sobranceria. Será que haverá alguém que ainda acredite na tese persecutória?

Chegamos à altura da contagem de espingardas, e quem não está com ele está contra ele! Evidentemente, não teria que ser assim, mas é. Cavaco Silva, que era o último não partidário que ainda mantinha a confiança - muito para além de muitos socialistas filiados -, decidiu finalmente fazer reparos à governação. E, passou instantaneamente de cooperante institucional cuja opinião se dizia respeitar, se bem que nem sempre concordar, para vil maldizente e obreiro porventura da campanha negra que fecha cada vez mais o cerco sobre o indefeso mas magnificente governante.

Entretanto, no mundo real, toda a Oposição alinhou pelo diapasão do Presidente. Em particular, ganham os partidos à esquerda do PS, que se sentem (com razão) legitimados pelas declarações de Cavaco, em grande parte coincidentes com a sua propaganda até agora.

Manuela Ferreira Leite, e o seu fraquíssimo PSD, que me parecem ganhar um novo folego com o desgaste cada vez mais acentuado de Sócrates, estica-se em pontas para tomar partido do momento, tentando no entanto manter o frágil equilibrio que é o de ir mandando bitaitadas sem ser arrastada para o meio da lama, o que danificaria irremediávelmente o semblante robóticamente sério que escolheu ser a sua principal arma eleitoral. Será que chega para convencer o eleitorado de uma alternativa credível? Poderá não ter 4 anos de governação em cima, mas tem experiência governativa - condição indispensável para governar nestes tempos de instabilidade. Pode não ter a aura brilhantista e o carisma do PM, mas tem uma imagem de honestidade e desapego que contrastam com os inúmeros casos dubios (para não dizer mais) que pendem sob o pescoço de Sócrates como a lâmina da guilhotina sobre um condenado. O grande problema é que continua associada a uma governação que os portugueses ainda não esqueceram, e o discurso denominado da tanga caiu muito mal na opinião pública, por muito que espelhe hoje mais que ontem a realidade em que o país vive.

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