abril 22, 2009

Opiniões

Gosto imenso de ler a opinião que se publica na imprensa nacional. A newsletter do Público, mesmo apesar dos erros de formatação (diários) e da opinião do Vital Moreira (semanal), é invariavelmente um ponto alto das minhas manhãs, e o mesmo se passa com a opinião publicada (esta acessível sem assinatura) no Jornal de Notícias (e, numa escala bem menor, com o Honório Novo e a sua retórica).

É um espaço onde a actualidade é decomposta e explicada em termos simples, e que geralmente vai mais além das notícias simples e secas. Os detalhes e as nuances, muitas vezes escondidos da análise superficial dos noticiários, são postos amíude em evidência, e as causas e consequências debatidas.

Mas, muitas vezes, acontece também trazerem para a luz do dia notícias obscuras. Um exemplo último é o seguinte, que devo agradecer a Manuel António Pina.

Algum de vós tinha ouvido que o Parlamento gastou não menos que 1 milhão de euros em carros de alta cilindrada? Pois, eu não tinha, e por isso parti à descoberta. A informação que descobri, encontra-se partilhada neste post: uma notícia do correio da manhã, e um vídeo no IOL Diário que a minha ligação nem me permite ver.

Seria de esperar que uma notícia destas tivesse uma cobertura noticiosa superior, e que o porquê de tal investimento fosse explicado aos portugueses.

Fui ao site do parlamento ver se via mais informação sobre o tema, mas nem uma palavra de esclarecimento estava disponível. (Mas, nem tudo foi mau, gostei muito das palavras-chave que lá encontrei, cidadania, liberdade, igualdade, futuro, são tudo ideais que uma pessoa aprecia encontrar quando fica a saber que na maior crise do séc XXI até ao momento os senhores deputados escolhem trocar de carro).

É que sou todo a favor da dignidade que um alto cargo do Estado merece, e até nem queria criticar sumáriamente a aquisição, mas isso torna-se dificil de fazer quando as coisas são feitas à socapa, e nem um comentário a explicar as coisas ao povo encontramos num dos meios mais importantes de comunicação institucional.

Ps: Uma jornalista foi à Ordem dos Notários pedir todas as escrituras que tiveram a intervenção do Primeiro-ministro. A Ordem dos Notários deu procedência ao pedido, e isso gerou imediatamente polémica, com o Secretário de Estado Tiago Silveira, chocado com o caso, vir a público queixar-se de devassa da vida privada e de perseguição ao Primeiro Ministro - o argumento de sempre.

Responde - e muito bem - o Ex-Bastonário da Ordem Joaquim Barata Lopes (num artigo de opinião) que as escrituras são públicas, e que o que a Ordem fez mais não é do que uma obrigação decorrente da lei, e que só não é cumprida pelo próprio Estado devido à sua incompetência.

Mais, põe o dedo na ferida: "O secretário de Estado da Justiça qualifica de muito grave a actuação da Ordem dos Notários, tão só porque o nome do outorgante de cujas escrituras se pretendem obter certidões é o de José Sócrates (e não o de José Silva) e o requerente foi um jornalista."

Numa altura em que se debate o fim do sigilo bancário (curiosamente apenas para pessoas singulares), que (ainda) é sigiloso, vir classificar de muito grave e atentatório da vida privada a divulgação de escrituras - cuja publicidade é a própria razão da sua existência - é no mínimo caricato e mais um tiro no pé para o Governo.

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