maio 19, 2009

Alfie Patten, ou a vida real aos 13 anos

Alfie Patten, é um jovem britânico que, apesar dos seus 13 tenros anos, já tem uma experiência de vida maior que muitos de nós.

Com apenas 13 anos, o jovem Patten viu-se atirado para a ribalta dos tablóides ingleses no passado Fevereiro, porque a sua namorada Chantelle, de 15, tinha dado à luz um filho. Imediatamente se ouviram clamores horrorizados em toda a sociedade, como se a triste realidade não fosse a que o país goza da pior (isto é, mais alta) taxa de natalidade entre as adolescentes da Europa (ver aqui, e aqui também).

A imprensa inglesa, na sua forma repugnantemente voraz, captou a história e todos os seus contornos mais sórdidos. As famílias envolvidas, essas, abriram as portas de par em par às câmaras fotográficas e aos microfones, para vender a aberração. Sedentos talvez de também uma ou duas fotografias, juntaram-se os imberbes das redondezas, 8 no total, a contestar a paternidade do menino Alfie. (No final, ficaram dois, apesar de a mãe jurar a pés juntos que as pretensões eram falsas). E a imprensa, fiel à sua abjecta cartilha, explorou tudo o que era passível de exploração, de forma a que todos os detalhes estivessem à disposição de quem quisesse no matutino do dia seguinte.

Finalmente, depois de milhares (de milhões) de jornais vendidos, de rios de tinta gastos, alguém decidiu impedir por força da lei a exploração do caso, e pedir testes de paternidade do bebé (aqui também).

Uns meses depois, quebra-se a imposição de silêncio, para dar a notícia que os testes de paternidade rejeitaram a possibilidade de Alfie ser o pai biológico, atribuindo a paternidade a outro jovem, Tyler Baker, com 14 anos à data da concepção.

No final de toda esta história, nada nem ninguém sai melhor que quando ela começou.

Depois, a pequena Maisie, que mal nasceu e já tem a sua vida manchada de forma gravíssima pelo comportamento inaceitável de todos os que a rodeiam. Que perspectivas poderá haver para ela?

Que dizer da mãe, Chantelle? Os adjectivos que me vêm à cabeça são intransponíveis para este espaço que se quer decente… Espero no entanto, que ao fim de 15 tenros anos, depois de sabe-se lá quantas relações em que abusou de sabe-se lá quantos rapazes (e sobre as quais mentiu perante tudo e todos), não haja lugar à recompensa de manter uma criança para a qual demonstrou com brilhantismo não ter condições para manter.

As famílias, de todas estas crianças, que falham persistentemente no seu dever de supervisão, e que são incapazes de manter uma atmosfera saudável de crescimento às suas crianças. Não há palavras para descrever a forma como pode esta, consumada a tragédia, atirar para a os jornais o caso daquela forma.

A Imprensa inglesa é sobejamente conhecida pela sua agressividade na forma como trata os temas. No entanto, desta vez ultrapassou todos os limites de si própria. A liberdade de expressão e de informação é um valor caro de todas as sociedades ocidentais, mas liberdade a mais é não ter liberdade nenhuma, e este caso demonstrou-o eloquentemente! Algo tem que ser feito para nos proteger deste tipo de imprensa.

A sociedade em geral, acéfala, acrítica, que acorda para comer para ver tv, para embebedar-se ao fim do dia e bater na mulher, que se alimenta deste lixo humano da mesma forma como consome vorazmente um hambúrguer do MacDonald’s, nada mais é que uma versão sem pelos dos macacos que nos deram origem: a derradeira prova de Darwin e da evolução das espécies está em todos nós.

Alfie Patten, a primeira e ultima vítima, foi manietado por tudo e por todos. Numa primeira altura, por uma rapariga mais velha 3 anos que abusou dele, à altura uma criança inocente. Seguidamente, foi vendido pela família aos tablóides. No final, saber que a filha que tinha aceitado como sua na realidade não o é.

No meio de toda esta história, foi o mais digno personagem. Assumiu as consequências dos seus actos, tentando sempre fazer o que era correcto.

Foi pai, e namorado leal. Defendeu sempre os que estavam com ele. No final, foi traído na sua confiança e abandonado à sua sorte. Com 13 anos.

Não consigo imaginar que sentimentos passarão pela sua alma neste momento, mas tenho a certeza que no final disto tudo, tudo o que se passou ter-lhe-á retirado o direito que ele tinha a ser criança. O resto, bem… O resto serão feridas que espero que o tempo cure o melhor possível.

Mas que nunca desaparecerão.

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