maio 17, 2009

O limbo do poeta (II)

Conforme previ num post anterior, era delicada a posição de Manuel Alegre dentro do PS. E, as linhas da solução gerais de resolução do imbróglio foram hoje conhecidas. Afasta-se, pois, o decano deputado da Assembleia, sem no entanto abandonar o partido. Coisa que já se previa por certo.

A Manuel Alegre, o status quo atingido permite de facto salvar a face, numa situação que já era há muito tempo insustentável, e permite manter aspirações legítimas a um apoio politico-partidário a uma eventual candidatura às Presidenciais. O plano passará certamente para a partir de agora utilizar as plataformas que congregou à volta da sua figura (Corrente de Opinião Socialista e Movimento de Intervenção Cívica) para o manter no centro dos média e da agenda pública até então.

Por outro lado, dá-lhe a liberdade que (apesar de tudo) não tinha de intervenção e crítica às opções do governo, e, caso o PS de José Sócrates entre em colapso mais rapidamente do que o previsto, permite-lhe uma posição de partida particularmente vantajosa para o assalto aos restos que ficarem.

Assim, é uma decisão acertada, se bem que a novidade não seja de grande monta.

Relativamente à posição delicada de alguns seus apoiantes, ainda foi ventilada a possibilidade de alguns dos seus apoiantes serem repescados para as listas do PS, a título de repescagem – perdão, de piscadela de olho à esquerda do partido de esquerda.

Para Sócrates, são evidentes as vantagens da troca de M.A. por alguns apoiantes, pois permite o piscar de olhos aos descontentes internos, e inclusivamente alegar uma maior representatividade (se bem que concerteza ilusória) da sensibilidade de esquerda do partido.

O problema, no entanto, será convencer esses tais apoiantes de Manuel Alegre. Numa altura em que o principal dinamizador da discórdia sai de cena alegando “incompatibilidades insanáveis”, como é que poderá ser aceitável que os seus apoiantes (que inclusivamente pressionavam para a criação de um novo partido) se esqueçam repentinamente de tudo isso para irem apoiar o Ti Sócrates?

Só mesmo o perfume irresistível das madeiras nobres do Parlamento, para permitir uma amnésia de tal ordem!

Além disso, com o afastamento de Manuel Alegre, a altura é de José Sócrates – que, aliás, não fez questão de esconder o seu alívio pela decisão de Manuel Alegre – cantar de galo e juntar tropas em torno de si mesmo tecendo-lhe as laudes que ele tanto necessita!

Parece-me, assim, pouco credível esta notícia, que, aliás, já foi alvo de um esboço de desmentido – note-se, que M.A. nega a negociação de nomes, e não especificamente a de negociação de lugares!

Ps: Curiosa a declaração de Santos Silva. Será que quando disse que a saída de Manuel Alegre iria "contribuir para a renovação", estaria a chamar de retrógrados a uma facção não despicienda do seu próprio partido (e, por extensão, ao já celebre milhão de votos)?

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