maio 12, 2009

Vendo a Bela Vista…

Hesito em escrever sobre os eventos do Bairro da Bela Vista, em Setúbal. Sinto que tudo o que por lá se passa é demasiado grave para ser debatido com simplicidade.

No entanto, como o fenómeno não é novo, aproveito para relembrar os motins de Clichy-sous-Bois, em 2005.

Em 27 Outubro de 2005, a morte de dois adolescentes que fugiam à polícia deram origem a um motim em grande escala no supra citado bairro, que rapidamente se espalhou aos outros bairros da Île-de-France, e, a 3 de Novembro, a praticamente todos os grandes centros urbanos de França.

A 8 de Novembro, foi accionado o estado de emergência em todas as zonas afectadas, o que não fez com que os motins parassem até 18 de Novembro. O estado de emergência entretanto decretado foi entretanto estendido até 4 de Janeiro de 2006.

Os acontecimentos resultaram em nada menos que desacatos em 274 localidades, 2888 presos, 8973 veículos destruídos, 126 polícias e bombeiros feridos, e um prejuízo avaliado em 200M€.

(História em tudo semelhante, também em França, em 2007, aqui.)

Por cá, como por lá, os eventos que assistimos agora foram despoletados pela morte de um jovem na sequência de uma perseguição policial.

Por cá, como por lá, as raízes dos conflitos estão ligadas com a dificuldade de integração das comunidades emigrantes, que são invariavelmente encaixotadas em guetos periféricos e sem trabalho ou esperanças de o obterem.

Talvez, também, cá como por lá, a predominância de uma certa contra-cultura por entre os mais jovens, conjugada com a passividade de uma sociedade que não providencia o apoio a estas populações especialmente necessitadas necessitam, tenham contribuído para os acontecimentos.

Talvez, no nosso caso, tenhamos a agravante de uma crise económica que vem apenas piorar uma região inteira, que é densamente populada e que se encontra já de si deprimida.

Reconhecendo tudo isto, parece-me evidente que o problema não se resolve por si, e que algo deve ser feito para apoiar as populações mais carenciadas.

Mas, por outro lado, pergunto-me em que pensarão estes cidadãos, que sabem fazer molotov’s (cocktails, não pudins) em doses industriais, e que se acham no direito de atacar as forças policiais, ou de fazer demonstrações na rua como as que fizeram nestes dias. Poderão sinceramente achar que isso poderá ser?

É um estado de coisas intolerável o que estamos a ver, e, independentemente das razões que possam ter, há que capacitar as pessoas para as mais básicas regras de urbanidade.

Ps: Em França, o à altura Ministro do Interior, classificou os jovens que participavam nos motins como “escumalha”. No final dos motins, a sua popularidade estava no topo, o que culminou com a eleição de Nicolas Sarkozy para a Presidência Francesa. As populações das zonas carenciadas, essas, pouco ficaram a ganhar com os acontecimentos... Será tudo igual entre Clichy-sous-Bois 2005, e Bela Vista 2009?

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