Em Portugal
Em Inglaterra
(Peço desculpa pela comparação de uma notícia tão triste como dramática, e o excelente humor dos Monty Python, mas, como se costuma dizer, rir é o melhor remédio. Quanto ao resto, reservo os comentários.)
Em Portugal
Em Inglaterra
(Peço desculpa pela comparação de uma notícia tão triste como dramática, e o excelente humor dos Monty Python, mas, como se costuma dizer, rir é o melhor remédio. Quanto ao resto, reservo os comentários.)
Ponto prévio, e esclarecimento devido ao meu ultimo post: Sou apologista convicto de que as crianças devem ser educadas pelos seus pais biológicos, e que a falta de meios financeiros destes não deve constituir motivo para que se lhes retire o poder parental. Pelo contrário, antes deve motivar a sociedade para apoiar os pais que, apesar das dificuldades, decidem ter e educar condignamente os seus filhos.
Infelizmente no entanto, por vezes os pais chegam à conclusão que, em determinada altura da sua vida, pura e simplesmente não têm as condições mínimas de sustentar os seus filhos com o mínimo de dignidade. Nessas alturas, as crianças são invariavelmente (por iniciativa dos pais ou dos serviços sociais) entregues a famílias de acolhimento, que se comprometem a tomar conta das crianças, temporariamente.
A teoria diz-nos que mal os problemas dos pais biológicos que motivaram a entrega das crianças sejam ultrapassados, as crianças lhes sejam restituídas, para que em família possam reconstruir a sua vida em conjunto.
Tudo isto parece muito bem.
O problema, é que o papel que se espera das famílias de acolhimento é especialmente duro de suportar. A elas, está reservada a dura tarefa de dar à inocente criança o apoio que ela necessita, e isso não se resume a cama mesa e roupa lavada. Pelo contrário, envolve principalmente ou pelo menos em iguais termos afectividades, que são as bases indispensáveis de um são crescimento pessoal, intelectual e psíquico.
Assim, mesmo que as famílias de acolhimento saibam que a guarda da criança é temporária, como pode ser esperada delas que abdiquem (muitas vezes repentinamente) de anos de afectos que gratuitamente dispensaram aos filhos de outrem?
Não ignoro que porventura hajam casos em que o acolhimento das crianças não seja feito pelos motivos errados, como seja o acesso dificultado aos mecanismos de adopção. Por outro lado, parece-me também complicado e perigoso escrutinar burocraticamente os laços de genuína solidariedade social que motivam a generalidade do acolhimento de menores.
Escrevo estas linhas motivado pelos desfechos recentes dos casos Esmeralda e Alexandra. Em ambos os casos, a criança foi entregue aos pais biológicos, apesar da oposição levada ao desespero das famílias de acolhimento.
Ignoro os contornos exactos dos casos, e não obstante os rios de tinta que correram na comunicação social, em ambos os casos me pareceu que a argumentação das partes não foi satisfatoriamente transmitida para a opinião pública.
Apesar disso, não deixa de ficar a forte sensação de injustiça, e de que o “superior interesse da criança”, assim salvaguardado na lei, não terá sido o valor primordial nas decisões que motivaram os desfechos destes casos.
A análise (apoiada nesta conclusão - se não real, pelo menos intuída) de que em ambos os casos as instituições - Justiça, Serviços Sociais, Pais, Famílias – terão falhado, parece-me simplista e injusta. Prefiro acreditar que, de acordo com os princípios defendidos teoricamente por todos, tudo terá corrido da forma que tinha que correr, e que o desfecho do processo terá sido o único possível.
No entanto, quando a aplicação de princípios justos leva a desfechos que não “parecem” correctos, deve-se reflectir seriamente se os procedimentos adoptados preservam os ideais defendidos à partida.
Particularmente, acho que falta dar às famílias de acolhimento um papel mais activo na decisão de entrega do poder de paternidade. Parece-me que, mesmo que a decisão de entrega das crianças aos pais biológicos se mantenha, só com o apoio constante das mesmas se podem evitar traumas à criança, que sem duvida perdurarão durante a sua vida. Seguidamente, acharia importante que os serviços de acção social fizessem um acompanhamento efectivo das situações de acolhimento e dos pais biológicos, na tentativa que pais afectivos e biológicos entrem em guerra pela custódia da criança.
Afinal, trata-se de humanizar os serviços para casos que já são dramáticos por si, e não precisam da frieza que lhes é reconhecida.
Ps.: Não obstante manter a minha fé na correcção das decisões finais que foram tomadas, o Juiz que decidiu a entrega da criança russa à mãe biológica, quando confrontado com as imagens da mesma a bater na criança, veio a público dizer algumas coisas que são na minha opinião graves.
Após uma batalha judicial que foi longa, vir dizer que se a mãe biológica ficasse em Portugal a decisão seria outra, é mau, mas não ter uma ideia correcta dos intervenientes –nomeadamente da mãe afectiva - é mau demais para ser verdade. A reflectir também, certamente…
Outro detalhe que vale a pena mencionar: num país em que nos cafés todos são apologistas da palmadinha “pedagógica” (especialmente nos filhos dos outros), só por hipocrisia se pode compreender as expressões de horror desabrido que por aí andam relativamente ao vídeo divulgado. Mesmo, apesar de a cena me parecer claramente excessiva…
Alfie Patten, é um jovem britânico que, apesar dos seus 13 tenros anos, já tem uma experiência de vida maior que muitos de nós.
Com apenas 13 anos, o jovem Patten viu-se atirado para a ribalta dos tablóides ingleses no passado Fevereiro, porque a sua namorada Chantelle, de 15, tinha dado à luz um filho. Imediatamente se ouviram clamores horrorizados em toda a sociedade, como se a triste realidade não fosse a que o país goza da pior (isto é, mais alta) taxa de natalidade entre as adolescentes da Europa (ver aqui, e aqui também).
A imprensa inglesa, na sua forma repugnantemente voraz, captou a história e todos os seus contornos mais sórdidos. As famílias envolvidas, essas, abriram as portas de par em par às câmaras fotográficas e aos microfones, para vender a aberração. Sedentos talvez de também uma ou duas fotografias, juntaram-se os imberbes das redondezas, 8 no total, a contestar a paternidade do menino Alfie. (No final, ficaram dois, apesar de a mãe jurar a pés juntos que as pretensões eram falsas). E a imprensa, fiel à sua abjecta cartilha, explorou tudo o que era passível de exploração, de forma a que todos os detalhes estivessem à disposição de quem quisesse no matutino do dia seguinte.
Finalmente, depois de milhares (de milhões) de jornais vendidos, de rios de tinta gastos, alguém decidiu impedir por força da lei a exploração do caso, e pedir testes de paternidade do bebé (aqui também).
Uns meses depois, quebra-se a imposição de silêncio, para dar a notícia que os testes de paternidade rejeitaram a possibilidade de Alfie ser o pai biológico, atribuindo a paternidade a outro jovem, Tyler Baker, com 14 anos à data da concepção.
No final de toda esta história, nada nem ninguém sai melhor que quando ela começou.
Depois, a pequena Maisie, que mal nasceu e já tem a sua vida manchada de forma gravíssima pelo comportamento inaceitável de todos os que a rodeiam. Que perspectivas poderá haver para ela?
Que dizer da mãe, Chantelle? Os adjectivos que me vêm à cabeça são intransponíveis para este espaço que se quer decente… Espero no entanto, que ao fim de 15 tenros anos, depois de sabe-se lá quantas relações em que abusou de sabe-se lá quantos rapazes (e sobre as quais mentiu perante tudo e todos), não haja lugar à recompensa de manter uma criança para a qual demonstrou com brilhantismo não ter condições para manter.
As famílias, de todas estas crianças, que falham persistentemente no seu dever de supervisão, e que são incapazes de manter uma atmosfera saudável de crescimento às suas crianças. Não há palavras para descrever a forma como pode esta, consumada a tragédia, atirar para a os jornais o caso daquela forma.
A Imprensa inglesa é sobejamente conhecida pela sua agressividade na forma como trata os temas. No entanto, desta vez ultrapassou todos os limites de si própria. A liberdade de expressão e de informação é um valor caro de todas as sociedades ocidentais, mas liberdade a mais é não ter liberdade nenhuma, e este caso demonstrou-o eloquentemente! Algo tem que ser feito para nos proteger deste tipo de imprensa.
A sociedade em geral, acéfala, acrítica, que acorda para comer para ver tv, para embebedar-se ao fim do dia e bater na mulher, que se alimenta deste lixo humano da mesma forma como consome vorazmente um hambúrguer do MacDonald’s, nada mais é que uma versão sem pelos dos macacos que nos deram origem: a derradeira prova de Darwin e da evolução das espécies está em todos nós.
Alfie Patten, a primeira e ultima vítima, foi manietado por tudo e por todos. Numa primeira altura, por uma rapariga mais velha 3 anos que abusou dele, à altura uma criança inocente. Seguidamente, foi vendido pela família aos tablóides. No final, saber que a filha que tinha aceitado como sua na realidade não o é.
No meio de toda esta história, foi o mais digno personagem. Assumiu as consequências dos seus actos, tentando sempre fazer o que era correcto.
Foi pai, e namorado leal. Defendeu sempre os que estavam com ele. No final, foi traído na sua confiança e abandonado à sua sorte. Com 13 anos.
Não consigo imaginar que sentimentos passarão pela sua alma neste momento, mas tenho a certeza que no final disto tudo, tudo o que se passou ter-lhe-á retirado o direito que ele tinha a ser criança. O resto, bem… O resto serão feridas que espero que o tempo cure o melhor possível.
Mas que nunca desaparecerão.
Depois dos vários casos TGV’s, de Dias Loureiro, BCP, BPN, Sócrates (nas suas variantes licenciatura, projectos de construção civil, Freeport, escrituras de casas e afins), abates de Sobreiros, Submarinos, Financiamento dos Partidos, Lopes da Mota, etc etc etc etc etc (não há memória que chegue para tanto), junta-se agora polémica sobre os números do desemprego.
Protesta a oposição, à esquerda e à direita, defende-se a instituição que prevaricou, o próximo passo, está-se mesmo a ver, é o governo e PS a assobiarem para o lado, mas pelo sim pelo não, a bloquear todas as tentativas (sérias ou não) de escrutinar a verdade, e andamos neste rame-rame que não nos leva a lado nenhum!
De um ponto de vista particular, é de admitir que o erro detectado tem influência, pois a classificação errada dos desempregados em causa pode retirar apoios vitais a quem os necessita, e/ou fornecê-los a quem não precisa absolutamente deles.
No entanto, pergunto-me, qual será o objectivo de fazer disto um calvário de sound-byte para o cidadão comum? Haverá mesmo alguma vantagem em andar a debater se são 490 ou 500 mil desempregados? Tira o governo algum proveito disto? Poderá alguém com cara séria (mesmo para um político) gabar-se de uma redução tão mísera?
Já estou aqui como o outro, só podem estar a gozar com a nossa cara!
Corrija-se o erro, e siga-se em frente por favor!
É que isto assim não pode continuar! Andamos aqui de caso em caso, mas não progredimos um milímetro em direcção alguma! Em vez de andarmos a debater o que podemos fazer para tornar este país minimamente decente, andamos a chafurdar na lama constantemente.
Exorto os senhores da comunicação social a dar pouco eco a estas banalidades. Sim, porque os senhores da nossa política com isto são coniventes, e dar-lhes o microfone é cumprir a sua agenda vergonhosa que já cansa!
Ou, voltando ao inicio do post, algum dos casos mencionados teve alguma consequência em tempo útil que repusesse a dignidade à actuação do Estado ou dos que exercem cargos nele?
Conforme previ num post anterior, era delicada a posição de Manuel Alegre dentro do PS. E, as linhas da solução gerais de resolução do imbróglio foram hoje conhecidas. Afasta-se, pois, o decano deputado da Assembleia, sem no entanto abandonar o partido. Coisa que já se previa por certo.
A Manuel Alegre, o status quo atingido permite de facto salvar a face, numa situação que já era há muito tempo insustentável, e permite manter aspirações legítimas a um apoio politico-partidário a uma eventual candidatura às Presidenciais. O plano passará certamente para a partir de agora utilizar as plataformas que congregou à volta da sua figura (Corrente de Opinião Socialista e Movimento de Intervenção Cívica) para o manter no centro dos média e da agenda pública até então.
Por outro lado, dá-lhe a liberdade que (apesar de tudo) não tinha de intervenção e crítica às opções do governo, e, caso o PS de José Sócrates entre em colapso mais rapidamente do que o previsto, permite-lhe uma posição de partida particularmente vantajosa para o assalto aos restos que ficarem.
Assim, é uma decisão acertada, se bem que a novidade não seja de grande monta.
Relativamente à posição delicada de alguns seus apoiantes, ainda foi ventilada a possibilidade de alguns dos seus apoiantes serem repescados para as listas do PS, a título de repescagem – perdão, de piscadela de olho à esquerda do partido de esquerda.
Para Sócrates, são evidentes as vantagens da troca de M.A. por alguns apoiantes, pois permite o piscar de olhos aos descontentes internos, e inclusivamente alegar uma maior representatividade (se bem que concerteza ilusória) da sensibilidade de esquerda do partido.
O problema, no entanto, será convencer esses tais apoiantes de Manuel Alegre. Numa altura em que o principal dinamizador da discórdia sai de cena alegando “incompatibilidades insanáveis”, como é que poderá ser aceitável que os seus apoiantes (que inclusivamente pressionavam para a criação de um novo partido) se esqueçam repentinamente de tudo isso para irem apoiar o Ti Sócrates?
Só mesmo o perfume irresistível das madeiras nobres do Parlamento, para permitir uma amnésia de tal ordem!
Além disso, com o afastamento de Manuel Alegre, a altura é de José Sócrates – que, aliás, não fez questão de esconder o seu alívio pela decisão de Manuel Alegre – cantar de galo e juntar tropas em torno de si mesmo tecendo-lhe as laudes que ele tanto necessita!
Parece-me, assim, pouco credível esta notícia, que, aliás, já foi alvo de um esboço de desmentido – note-se, que M.A. nega a negociação de nomes, e não especificamente a de negociação de lugares!
Ps: Curiosa a declaração de Santos Silva. Será que quando disse que a saída de Manuel Alegre iria "contribuir para a renovação", estaria a chamar de retrógrados a uma facção não despicienda do seu próprio partido (e, por extensão, ao já celebre milhão de votos)?
Dos muitos estudos que se vêm por aí, eis um que apresentou um resultado muito interessante: as mulheres mais inteligentes têm mais orgasmos!
Não sei como é que se mede uma coisa destas, mas para mim faz todo o sentido! E passo a explicar porquê.
Segundo me lembro dos canhenhos de psicologia e filosofia, o Homem (e a Mulher em particular) é um ser bio-psico-socio-cultural.
Enquanto o homem tem biologicamente a função de aproveitar (tendencialmente) todas as oportunidades que surjam para distribuir a sua semente (o que, convenhamos, não exige grande inteligência, e é amplamente comprovado pelo folclore popular com expressões do tipo “pensar com a cabeça de baixo” e afins); a gestação de 9 meses que é imposta à mulher implica um processo mais cuidado de escolha de parceiro.
Assim, enquanto a sexualidade masculina é bastante simples e mecânica, a feminina é bastante complexa e envolve… Bem… Envolve… Enfim, um milhão de variáveis que apenas posso especular (pois sou homem, e faço pouca ideia – limito-me a aproveitar se e quando tenho a oportunidade). De qualquer forma, faz todo o sentido que se a confiança da mulher em si própria e na sua escolha for superior, então o sexo será mais compensador!
Por outro lado, também, se a mulher for mais inteligente, escolherá tendencialmente o melhor parceiro, o melhor amante, e, tendencialmente, aquele que proporcionará melhores sensações no “acto”. Multipliquemos isto por milhões de anos, e parece que a ligação inteligência-sexo compensador não parece nada descabida. Por outro lado, e seguindo o mesmo raciocínio, vem provar também um muito importante corolário: que os melhores reprodutores, os melhores amantes (e eu também), consideram a inteligência das mulheres sexy!
Portanto, meninas, vale bem a pena inserir na toilette para surpreender o mais-que-tudo numa noite especial - ao lado do baton ou sapatos caros a nível de importância- o belo do livro!
Apesar de toda a crítica, velada ou não, Manuel Alegre afastou a possibilidade de se demarcar do PS definitivamente, e criar um novo partido. Parece claro, que o maior motivo é o de não fragmentar o partido em ano de eleições triplas – tal poderia efectivamente entregar o próximo governo ao PSD, o que seria o grande pesadelo da esquerda. É evidente que a ultima coisa que Manuel Alegre quer é ser visto como a pessoa que maior influência teve na eleição de um governo de direita!
No entanto, apesar de ser claro que M.A. esteja de pés e mão atados no que diz respeito às críticas que o afastam flagrantemente das orientações gerais do partido, o silêncio dele não vem sem um preço. Assim, parece claro que o silêncio de agora seja trocado por um ruidoso (se bem que amarelado) apoio do partido para as próximas presidenciais.
Na expectativa, ficam os seus apoiantes do Movimento de Intervenção Cívica (MIC) e da Corrente de Opinião Socialista (OPS), que tinham anunciado a sua vontade de avançar para um projecto independente do actual PS. A grande maior parte, portanto, parece condenada a ficar abandonada num limbo, pois, ao manifestarem o seu apoio à criação de um novo partido, excluem a sua participação em qualquer dos existentes, e, enquanto M.A. se retrai à ultima hora, muitos já não estarão a tempo de o fazer. Por outro lado, mesmo que avancem agora para a criação de um novo partido, sem a sua figura de proa o projecto estará condenado à nascença.
Parece evidente que a imagem de M.A. de idealista combativo e irredutível por ideais não tem como ficar incólume desta história. Não só se presta a abdicar do seu pensamento por um apoio partidário que lhe permita disputar umas eleições que ele certamente deseja ganhar, como “abandona” camaradas de ideologia no processo.
Talvez por isso mesmo, começam já a ser ventiladas as teorias de que M.A. “sente-se mais útil a ajudar a reorientar o PS à esquerda” do que a criar um novo partido. Mas, relativamente a esta possibilidade, não ignorará o poeta o quão maleável é Sócrates (tal como não ignoramos nós), e, consequentemente, como sucesso de tal empresa só poderá ser diminuto.
Também curiosa será ver qual a sua participação nas eleições que se aproximam. A sua permanência dentro do PS implicará quase obrigatoriamente a sua inclusão nas listas eleitorais. No entanto, caso seja candidato a deputado, ver-se-á “forçado” a fazer campanha por um projecto em que claramente não acredita. Terá estômago para tal? Permito-me duvidar… Por outro lado, mesmo que não seja candidato (o que teria que ser bem explicado à opinião pública), a sua participação na campanha (ou a sua ausência dela) serão certamente escrutinadas com toda a atenção pela opinião pública.
Será interessante ver como é que nos próximos episódios deste fait-divers consegue o PS e o seu incómodo Manuel Alegre e respectiva falange de apoio manter o delicado equilíbrio entre as conveniências ditadas pelas necessidades do momento, e a manutenção de valores que valem um milhão de votos mas em que o partido não acredita mais (e o próprio Manuel Alegre dá mostras de querer abandonar)...
Hesito em escrever sobre os eventos do Bairro da Bela Vista, em Setúbal. Sinto que tudo o que por lá se passa é demasiado grave para ser debatido com simplicidade.
No entanto, como o fenómeno não é novo, aproveito para relembrar os motins de Clichy-sous-Bois, em 2005.
Em 27 Outubro de 2005, a morte de dois adolescentes que fugiam à polícia deram origem a um motim em grande escala no supra citado bairro, que rapidamente se espalhou aos outros bairros da Île-de-France, e, a 3 de Novembro, a praticamente todos os grandes centros urbanos de França.
A 8 de Novembro, foi accionado o estado de emergência em todas as zonas afectadas, o que não fez com que os motins parassem até 18 de Novembro. O estado de emergência entretanto decretado foi entretanto estendido até 4 de Janeiro de 2006.
Os acontecimentos resultaram em nada menos que desacatos em 274 localidades, 2888 presos, 8973 veículos destruídos, 126 polícias e bombeiros feridos, e um prejuízo avaliado em 200M€.
(História em tudo semelhante, também em França, em 2007, aqui.)
Por cá, como por lá, os eventos que assistimos agora foram despoletados pela morte de um jovem na sequência de uma perseguição policial.
Por cá, como por lá, as raízes dos conflitos estão ligadas com a dificuldade de integração das comunidades emigrantes, que são invariavelmente encaixotadas em guetos periféricos e sem trabalho ou esperanças de o obterem.
Talvez, também, cá como por lá, a predominância de uma certa contra-cultura por entre os mais jovens, conjugada com a passividade de uma sociedade que não providencia o apoio a estas populações especialmente necessitadas necessitam, tenham contribuído para os acontecimentos.
Talvez, no nosso caso, tenhamos a agravante de uma crise económica que vem apenas piorar uma região inteira, que é densamente populada e que se encontra já de si deprimida.
Reconhecendo tudo isto, parece-me evidente que o problema não se resolve por si, e que algo deve ser feito para apoiar as populações mais carenciadas.
Mas, por outro lado, pergunto-me em que pensarão estes cidadãos, que sabem fazer molotov’s (cocktails, não pudins) em doses industriais, e que se acham no direito de atacar as forças policiais, ou de fazer demonstrações na rua como as que fizeram nestes dias. Poderão sinceramente achar que isso poderá ser?
É um estado de coisas intolerável o que estamos a ver, e, independentemente das razões que possam ter, há que capacitar as pessoas para as mais básicas regras de urbanidade.
Ps: Em França, o à altura Ministro do Interior, classificou os jovens que participavam nos motins como “escumalha”. No final dos motins, a sua popularidade estava no topo, o que culminou com a eleição de Nicolas Sarkozy para a Presidência Francesa. As populações das zonas carenciadas, essas, pouco ficaram a ganhar com os acontecimentos... Será tudo igual entre Clichy-sous-Bois 2005, e Bela Vista 2009?
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.António Gedeão